quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O show da rede





“Alguém me contou”. Pequena frase, grande impacto. Muita gente quis saber o que me disseram. Ninguém teve sucesso. Escrevi no espaço do nick (apelido) do meu MSN Messenger. Foi perturbador. Muitos amigos e outros contatos perguntaram sobre a revelação. Não disse nada a ninguém! Aqui eu vou contar. Um grande segredo. Traduzi o nome da música (Somebody told me) de uma banda americana chamada The Killers. Simplesmente.

Diante do ‘sucesso’ da frase, no outro dia resolvi dar seqüência a essa brincadeira. hehe.. No espaço em branco do apelido digitei: “Agora eu sei pq”. De novo! Fui bombardeado de perguntas. “O que tu sabe?”, “Isso é um enigma”, afirmaram. Quem sabe? Mas não. Puro sarro. Uma seqüência de frases curtas, que aguçam a curiosidade. Bem, de novo eu não expliquei o motivo da frase. Queria ouvir o que os outros pensavam. E só!

Num terceiro dia surgiu uma terceira frase. Provocante, claro. “Se soubesse antes...”, reparou nos três pontinhos? Sugerindo que completassem o pensamento. Mais uma vez, vieram os comentários. “E esse nick, hein?”. “Tu tá apaixonado!”. Até lembraram de músicas e teclaram: “Se eu soubesse antes... o que sei agora, erraria tudo exatamente igual...”, da banda Engenheiros do Hawaii. Belíssimo!

Senti a curiosidade batendo à porta do outro, chamando para perto. E com essa tal curiosidade conversei com velhos amigos, soube onde estão e o que fazem nos dias de hoje. A brincadeira rendeu boas conversas e risadas com uma pitada de imaginação e mais provocações, claro. O mundo é movimentado pela “pulguinha atrás da orelha”.

De agora em diante sempre vou escrever frases com suspense, que aguçam e provocam a imaginação, ou seja lá o que for. A internet é isso, o espetáculo do eu, do você e do nós. Criamos estórias, frases e imagens. Somos ídolos, fãs e o ‘sucesso’ dos outros.

É hilário! É épico! É uma vergonha!

Esse é um vídeo editado só com os melhores momentos da candidata ao governo de Brasília, Weslian Roriz (PSC), mulher do ex-governardor do Distrito Federal Joaquim Roriz, durante o debate transmitido pela Rede Globo, na última terça-feira.

É hilário, você vai rir muito. É épico, só vendo pra acreditar. É uma vergonha, você vai se perguntar: "como alguém deixa essa mulher ali?".



Só podia ser Brasilia!!!!!

sábado, 25 de setembro de 2010

Um jardim de primavera

Foto: Bernardo Bortolotto

Vejo flores na direção do céu, no canteiro ao lado da calçada, no chão por onde passo. Sinto o cheiro de terra molhada secando ao sol dos dias ímpares da primavera. O céu azul de hoje é a incógnita de amanhã. O canto dos pássaros é a plenitude da natureza. A estação entre o frio e o calor faz de tudo um pouco, é um jardim florido de cores diversas e perfumes variados.

A primavera é um pomar de Azaléias Brancas cândidas sobre um campo verde. É o romance entre o verão e o inverno, o elo das estações mais severas. É o Amor Perfeito em seu significado mais puro. É tempo de meditar, recordar e, por fim, refletir. Primavera do crescimento, da leveza e da Camélia Rosada.

Sensíveis, pétalas esparramam-se ao chão ao sopro de qualquer brisa. É tua responsabilidade, primavera dos Girassóis. A tua grandeza é a paz da Rosa Branca e a inocência de uma Margarida em terras tempestuosas de um inverno Narciso, que reluta em se despedir. Tu és a Tulipa Vermelha que se declara ao calor do astro maior, que faz desdém, como um Cravo Amarelo.

Calma! Não é a única nesse mundo a amar a natureza e suas belezas. Divide esse fardo com a simpática Magnólia. Talvez, ela seja fruto teu, dessa busca pela paz dos tempos e estações. Tuas flores provocam paixões e afloram sentimentos esquecidos numa rotina, dessas que o tempo passa e ninguém vê ou se chateia num canto qualquer.

Siga em frente e cumpra tua tarefa. Tu és o equilíbrio da natureza. É o florescer das pétalas irradiadas de perfume, sentimentos e emoções. A cor viva dentro dos seres ao despertarem depois de dias cinzentos e chuvosos. Onde houver um coração a bater, sempre haverá alguém a te saudar. Pois sempre haverá flores para dar e receber. A vida é um jardim de primavera.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

As cores da prisão


UCS - Intercom 2010
Upload feito originalmente por Bernardo Bortolotto
O olhar da ave é de cansaço.
O olhar do visitante é de excitação.
Cruzam-se os olhares.
Um vem de dentro e o outro de fora.
Tristeza e euforia.
A ave é rara e o homem curioso.
As penas vermelhas, amarelas, verdes e azuis são caras.
Cores da prisão.
Coloração que as aves não são capazes de distinguir, mas de sentir.
Cores, que ao homem, representam alguns minutos de contemplação.
Contempla o quê?

sábado, 18 de setembro de 2010

As cores do meu Rio Grande

Foto: Luciano Stabel
O verde gaúcho brota dos campos e serve de alimento ao povo e animais. O verde dos pampas não é o mesmo “verde louro desta flâmula”. O amarelo dessa terra, “que nasci desde guri”, não vem da riqueza roubada há 500 anos. Verte da sabedoria e evolução. E o vermelho do sangue derramado por ancestrais é a honra pulsante nas veias de cada gaúcho.

O verde do mate traz o gaúcho pra casa, o leva ao campo, vira a terra, o põe em cima do cavalo na lida do gado. Não importa onde esteja, seja no norte ou nordeste. O sorver do chimarrão e o estalo da água espumada sumindo cuia adentro é o Rio Grande do Sul no coração. É a “aurora precursora” habitante da alma desse ser do sul.

Nossa liberdade brilha forte, em tom amarelo, iluminada pelo “farol da divindade”. Dói aos olhos que enxerga do centro, norte, leste e oeste. Quem vem desses lados é bem recebido e contagiado por “nossas façanhas”. Amarelo do manto da sabedoria está em cada passo gaúcho e de outros seres que estas terras habitam.

O vermelho, do sangue já derramado por tantos, percorre as veias e impulsiona o gaudério “forte, aguerrido e bravo”. É como um “fogo de chão” na alma gaúcha, que arde 20 de Setembro. É orgulho em bravura e em reconhecimento aos heróis de 1835. É o vermelho do amor galopante em tempos de paz.

A alegria de chimangos e maragatos está no “céu, sol, sul, terra e cor”. Vem do campo semeado a honestidade e da raiz crescida em sabedoria. É o fruto colhido da ternura, da honra e da liberdade. É o Rio Grande de amores. É o Rio Grande das cores da minha bandeira.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

“De onde vem essa força?”

Nesse texto quero compartilhar um sentimento. É de impotência diante da vida. Antes de contar a minha breve situação e de profunda mágoa vou explicar o título da postagem.

“De onde vem essa força?” foi uma pergunta feita pela repórter Lizie Antonello, da editoria de Geral, do jornal Diário de Santa Maria, em um depoimento prestado ao blog Os Bastidores do Diário. Ela retratou sua experiência de cobrir o velório, na última quinta-feira, de Jason de Mello Brondani, um menino com 42 dias de vida. A jornalista estava acompanhada do fotógrafo Lauro Alves e de uma equipe da RBS TV.

A criança foi enterrada em Faxinal do Soturno, terra dos pais. O bebê nasceu com uma rara doença no intestino e percorreu quilômetros para conseguir uma vaga em um hospital de Porto Alegre, onde passaria por uma cirurgia. Leia a matéria completa.

O envolvimento

Soube da morte da criança logo pela manhã, quando cheguei à redação da RBS TV Santa Maria, na última quinta-feira (16). A recepção da notícia foi de profunda tristeza e surpresa imediata acompanhadas de um grito de lamento.

A RBS TV de Santa Maria ainda não havia noticiado a luta de vida da criança, porque o menino nasceu em Ijuí, depois foi levado para Pelotas e por seguinte à Capital. Nessas três cidades, as “praças locais” fizeram reportagens sobre o caso.

Eu tive conhecimento da história do menino depois de trocar e-mails com a assessoria de imprensa da prefeitura de Faxinal do Soturno. Como trabalho com produção cultural para o Jornal do Almoço, o jornalista Norton Ávila me encaminha as datas dos eventos que vão ocorrer na cidade.

No dia 13 de setembro, segunda-feira, ele enviou o seguinte e-mail:


“Jantar Beneficente ao recém-nascido Jason de Mello Brondani

Quando: 18 de setembro de 2010


Onde: Ginásio de Esportes Irmão Ademar da Rocha em Faxinal do Soturno

Horário: 20h30min


Valor: casal R$25,00 e individual a R$15,00


Promoção: Pais, familiares e amigos de Jason de Mello Brondani

Ao ler, fiquei curioso. Respondi o e-mail perguntando por que o jantar era beneficente. Na quarta-feira, dia 15, na metade da tarde eu li o retorno da assessoria. Soube da doença rara do menino e que a verba seria para ajudar a família nos custos com viagens, hospitais e medicamentos.
Minha família já passou por uma situação muito semelhante. Já senti na pele a necessidade de receber ajuda de outras pessoas.

No momento, pensei que precisava fazer alguma coisa para ajudar. Comecei a apurar mais informações sobre o caso. Estava levantando fatos que sustentassem uma reportagem local, a partir do jantar beneficente.

O material já estava pronto para ser oferecido na reunião de pautas, às 13h30min, de quinta-feira, dia 16. Contudo, Jason partiu antes, na manhã do mesmo dia. Senti um vácuo.

O sentimento de impotência derrubou meu chão. A frustração abriu um vazio no peito. “Por que estas coisas acontecem?”. Acompanhei o caso e o velório de longe. Tive um breve envolvimento com a situação e senti a dor da perda de uma criança tão distante de mim.


Ao ler Os Bastidores do Diário, e as colocações da jornalista, passei a refletir para saber “de onde vem essa força?”.

Até agora, não descobri...


+ sobre o caso Jason
 
Clique aqui para ver a reportagem na RBS TV Pelotas, de sexta-feira (10)
 
Clique aqui para ver a matéria publicada no Clicrbs, de sexta-feira (10)

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Os cabelos e a luz

Esta é Inês. É sergipana, de Aracaju. A conheci num congresso de comunicação social, em Caxias do Sul. Começamos a conversar dentro de um ônibus em direção à universidade. Eu estava com mais quatro amigos. Ela estava com mais uma amiga. Formamos um grupo de amigos. Nos reunimos e passamos um ótimo domingo de sol. Conversamos, passeamos, lanchamos, tocamos em uma roda de reggae no fim da tarde e jantamos na barraca de mate das ervas Valério.

Essa é uma breve apresentação para dizer que ao ver Inês e seus cabelos enxerguei uma fotografia. Vi que resultaria num belo desenho.

Estávamos tomando chimarrão. A lona que cobria a barraca da Valério Erva Mate provocou um efeito amarelado na luz do sol. Enxerguei ali a silhueta de Inês contra a iluminação. Um desenho.

Enquanto ela tomava seu mate e conversava, fui clicando. Algumas pessoas passavam pela frente. E a luz é um desafio constante, porque se modifica a cada segundo. Eu queria mostrar os cabelos.

Tentei várias vezes, em vários lugares, até realizar a captura acima. "Como vou destacar esses cabelos?". A luz construiu a foto que procurava. Uma pintura.

O mérito da foto está em Inês. Em seus cabelos em contraste com a iluminação do sol.

Adorei a foto.

sábado, 11 de setembro de 2010

A árvore de balas

Há quase 20 anos conheci uma pessoa que possuía a árvore mais preciosa do planeta. No pátio de sua casa, na cidade de Campo Bom (região metropolitana de Porto Alegre) ela estava plantada. Era uma árvore de balas.

Os sabores dos “frutos” eram de amendoim, morango, doce de leite e chocolate. Que planta maravilhosa. Eu era uma criança. Ele era um quase velho, muito sábio e gentil.

Uma vez, ou até duas por ano, ele vinha trazer os frutos da árvore. Criançada ansiosa para comer as balas. Mas, não era simples para ganhar uma. Aquele senhor fazia charadas, perguntas. “Qual a capital do Brasil?”, “Quanto é 2 vezes 3?”.

Quem acertasse a resposta, num bolo de crianças (todos primos), ganhava umas “balinhas” do meu tio-avô. E quem errasse, acabava ganhando uma “colher de chá”. Ele fazia uma pergunta bem fácil, que os outros com as mãos cheias, não podiam responder.

O tempo passou e eu descobri que a árvore de balas era um supermercado. Não mudou nada. Mesmo eu sendo um quase adulto, sempre ganhava as balas quando ele vinha visitar a irmã (minha avó), os sobrinhos e sobrinhos-netos.

Muito ouvi durante minha vida, o “tio Luiz chegou!”. Todos saíam de suas casas para abraçar o “tio Luiz” e a “tia Ilse”, sua esposa. Ele chegava de bermudas até os joelhos, de cor clara e um sapato leve, quase da mesma cor. Sempre usava um chapéu. Alguns até pareciam ser feitos de “caixa de ovo”. Era engraçado. Era sua característica.

Dos últimos três anos para cá, ele não pôde mais nos visitar. Ele contraiu uma doença terminal. No último dia de agosto desse ano, o tio não resistiu e nos deixou.

Quando recebi a notícia, de maneira involuntária, minhas lembranças buscaram um flash. Eu e meus primos, um bando de crianças, estávamos cercando o “tio Luiz”, ansiosos para responder rápido a cada pergunta e ganhar um punhado de balas.

Mais que uma árvore do doce, o tio plantava a harmonia em família. Ele criou uma fábula para nos ensinar coisas básicas da vida, um pouco de história, de matemática, de português. Para nos reunir e nos ver sorrindo. Um amontoado de crianças feliz. Um aglomerado de adultos em volta ajudando seus pequenos.

A árvore de balas viverá em minha memória para sempre. Sinto que fiz parte de um conto. Um senhor que “regava todas as manhãs” a sua árvore da felicidade e da alegria da gurizada. Que todo ano fazia a colheita e vinha distribuir aqui em casa.

O tempo passou, eu cresci e o senhor partiu. Foi embora na hora que deveria ir, aos 84 anos. Se foi depois de cultivar uma árvore de sorrisos, respeito, sabedoria, união e amor entre a família.

Agora, plante essa semente no céu, conte seu segredo sobre sua árvore cativa, faça a criançada daí de cima sorrir e aprender com a pureza do amor. Crie um conto. Continue a semear o bem ao lado de Deus.

Simples assim

Foto: Bernardo Bortolotto
Simples. As melhores coisas que acontecem na vida são simples. E tudo que é simples é inesperado e atinge aos seres com força. O que se espera do sol, se não a sua luz e o seu calor. O que mais vem do vento, se não um sopro no cabelo. E o verde da grama, um bom lugar para descansar. Da água, quer-se o refresco e a sede saciar. Aos animais resta a pureza da admiração e do amor.

É tudo tão simples que é óbvio. É tão óbvio que nem reparamos mais. A luz do sol surge por trás dos morros todos os dias. Amém! Quando é quente demais é reclamável. Mas, quantas vezes você o admira se esconder por trás dos morros, em sua despedida? Sentir o alaranjado do céu, à tardinha, em sua combinação esplêndida com a brisa que setembro sopra. Simples assim, grandioso ao espírito.

O verde da grama, a terra sentida entre os dedos das mãos, dos pés, é tão banal. É tão gostoso. Quem o faz, se não o morador do campo? Os Ipês amarelos e roxos já anunciam a chegada da primavera. Enfeitam nossas ruas e casas. Quem se reúne para vê-los florescer? De longe admiramos, em mais um desse afazeres de trabalho, talvez até de dentro de um carro.

A simplicidade da vida é o prazer da natureza. Aquilo que hoje não sentimos mais com a intensidade de décadas atrás. Os relacionamentos estão distanciados pelas tecnologias. A grama esquecida no pátio já está por cortar. O sol serve de lamento quando esquenta. E quando chove? O lamento é pela água que não para de cair.

As atividades humanas estão cada vez mais artificiais e complexas, a ponto de deixarmos de lado o simples. O belo. Contemple a chuva, o sol, o vento, a terra. Comemore com seus amigos ao lado de um lago, sob um céu azulado e um sol quente. Sinta a brisa bater em seus cabelos. Converse um pouco e logo vai sorrir. A simplicidade é assim, você espera muito pouco dela e ela te dá prazeres que imaginava não existir mais.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Mochila nas Costas

Arte de Luísa Schneiders
Está no ar a página do programa de rádio Mochila nas Costas. Ele foi desenvolvido por acadêmicos de jornalismo da UNIFRA (Centro Universitário Franciscano) Santa Maria, Rio Grande do Sul.

Foi gravado na Quarta colônia e o objetivo é fortalecer o turismo naquela região. O trabalho recebu nota máxima e foi apresentado no Intercom (Congresso Nacional de Comunicação) na Universidade de Caxias do Sul, entre os dias 2 e 6 de setembro.

Aproveite que está no computador e, enquanto faz suas coisas, Clique aqui para saber mais e ouvir as reportagens!

sábado, 4 de setembro de 2010

Uma briga, dezenas interpretações

“As coisas não vão boas entre eles”, pensei durante uma viagem de ônibus. Dezenas de pessoas devem ter compartilhado meu pensamento. O que fazer? Todos ouviram. Todos notaram a frustração daquela menina. Espiei de canto, mas não consegui ver se chorava. Por que brigavam tanto?

Tudo começou quando o celular dela tocou nos cinco primeiros minutos de viagem.

- Oi, amor! - atendeu a menina.

Logo de início também iniciou sua defesa. Sua luta contra acusações, que não podiam ser ouvidas. Eram imaginadas por todos passageiros. Tentei desviar a atenção, olhando pela janela. De repente ela gritou:

- Quem te disse isso?

“Xiii! Deduraram a moça para o namorado”, pensei. “Onde tem fumaça tem fogo”. Era perceptível a perturbação das pessoas. Algumas senhoras ficaram constrangidas. Uma delas, sentada ao meu lado comentou:

- Essas moças de hoje em dia só fazem besteira - Assenti de leve com a cabeça e fiquei em silêncio. Afinal, em briga de marido e mulher... Desespero!

- Tu não pode fazer isso comigo! Não Pode! Isso é mentira – Agora o tom na voz era de choro.

Alguém do fundo pediu silêncio. O ônibus inteiro estava quieto. Todos atentos à conversa. Ninguém dormia, como é de costume ver. Uma menina, solidária ao sofrimento, ofereceu um gole de água. Ela não aceitou. A senhora ao meu lado comentou, de novo:

- Aposto que ela saiu com outros tantos e ele ficou sabendo pelas “amigas dela” – deu uma risadinha. “Será?”, me perguntei. “Pode ser”. A cobrança era insistente, o rapaz do outro lado da linha deveria ter bons argumentos. Um cara que estava sentado na poltrona à frente da minha se virou e sussurrou:

- Se fosse comigo, eu mandava ela se catar na hora! – uma outra moça que estava em pé no corredor disse:

- Coitada! Sofrendo tanto por causa de um traste. Aposto que ele não é um santo!

Talvez, não fosse mesmo. De repente:

- Amorzinho, a bateria do meu celular vai terminar. Eu chego em casa e te ligo. Ou melhor, eu vou até tua casa. Ai, não faz isso – um choro baixo se ouviu.

“Terminou a bateria”, concluí. O motorista deu uma olhada pelo retrovisor. Todos estavam quietos. Ninguém falou mais nada. Até o término da viagem, alguns conseguiram dormir.

Falar ao celular é tão comum que muitas pessoas nem se dão conta onde estão para tratar de assuntos sérios. Mais que isso, até que ponto é possível invadir o espaço de audição do próximo? Difícil saber. Contudo, ao quebrar essa privacidade abre-se um leque de interpretações e até de pré-julgamentos. É a consequência por falar ao celular desrespeitando as pessoas ao seu lado. Ainda mais em um ônibus, né?