segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Carta de despedida

 Hoje, eu escrevo para agradecer. Esta será a última vez que me lerá  neste espaço. Os desafios que escolhemos para nossas vidas nos fazem tomar decisões. Algumas trazem muita felicidade, outras, tristeza. É com muito pesar que me despeço do Gazeta Regional e de nossos leitores/colaboradores.

Faz três anos e três meses que escrevo ao jornal. Quando comecei, estava no segundo ano da faculdade. Tudo surgiu com uma troca recíproca. Eu precisava escrever. À época, o Gazeta necessitava de colunistas. Então, começamos esta parceria.

No início, sempre passamos por dificuldades. Eu dividia meu tempo entre os estudos, trabalho (de 2008 a 2010 repórter da rádio Santamaraiense) e os textos semanais. Mesmo assim conseguia me manter informado para sustentar textos com ênfase no município. Mas foi ficando ainda mais difícil.

Em janeiro de 2010, entrei para o Grupo RBS de Santa Maria. Era estagiário na área de telejornalismo. Na prática, era produtor de reportagens e de boa parte do que o Jornal do Almoço levava ao ar. Não podia aparecer na “tela” antes de estar formado. Mas não deixava de ser escalado para fazer matérias, que iam ao ar com meus textos, porém, sem a minha voz e imagem.

O tempo passou e o final de curso se aproximando. Foi ficando complicado escrever sobre o que acontecia em São Pedro do Sul. Então, em uma conversa com o editor chefe do Gazeta, chegamos à conclusão de manter o espaço com crônicas que poderiam abordar temas diversos e não teriam prazo de validade.

Novos desafios surgiram. Se já estava corrido, ficou ainda mais. No dia 2 de fevereiro de 2011 comecei a trabalhar como repórter freelancer do Diário de Santa Maria. Onde fiquei sete meses, até ser convidado para integrar a equipe da RBS TV dos Vales, em Santa Cruz do Sul. Nesse meio tempo, em agosto, eu estava formado.

Agora, o tempo extra é ainda mais estreito. Mas quando gostamos das coisas, a gente sempre dá um jeito de fazer. Porém, o Grupo RBS faz um contrato de exclusividade com seus funcionários e, por isso, preciso deixar de escrever neste espaço.

Tenho muito a agradecer à direção e funcionários deste jornal. Sempre foram parceiros e compreensivos. Nesta troca, tenho certeza, nós evoluímos juntos. E nós, nada seríamos se não fossem vocês, caros leitores. Todos fazem parte deste crescimento.

Escrevendo em viagem, dentro de um ônibus, agradeço com muito carinho todos que leram, criticaram, sugeriram e elogiaram. A todos que compreenderam minha falta de tempo, assimilando os erros de digitação e até de português.

Aos políticos irritados, e até àqueles que pensam que são, me acusando de ser deste ou daquele partido, os meus agradecimentos. Esta é a certeza da minha isenção. Pois o único partido que tomei neste espaço foi o da comunidade.

Um fraterno abraço e até breve!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A primeira impressão


O centro de Santa Cruz do Sul é muito bonito. A Rua Marechal Floriano Peixoto é como se fosse a 15 de Novembro de São Pedro do Sul. O forte do comércio e o movimento mais intenso de pedestres estão nesta via. Próximo à Catedral São João Batista, um Túnel Verde (como é chamada pelos santa-cruzenses) é formado por inúmeras árvores plantadas às margens da rua.

Caprichoso, o povo de Santa Cruz dá um exemplo de planejamento nas vias da cidade. É uma sociedade exigente, com fortes traços da cultura alemã e que não sorri ao visitante no primeiro encontro. Comportamento, que em um primeiro momento, parece dizer: “olha, aqui nós somos assim, trate de se adaptar ao nosso jeito”.

Hospedado em uma pensão, tenho aproveitado as caminhadas até o trabalho para observar e conhecer as ruas de Santa Cruz. Apesar dos elogios à exigência e organização dos moradores, o município sofre com um mal que toda e qualquer cidade impulsionada pelo desenvolvimento sofre: o trânsito!

A maior parte das ruas é de mão dupla e os cruzamentos têm poucas sinaleiras. Para um visitante, é difícil saber quais ruas são preferenciais. Em horários de pico, a desordem está armada. Mais um exemplo de que, mesmo em uma cidade como Santa Cruz, o trânsito necessita de planejamentos quando ainda nem é possível imagina-lo um problema.

sábado, 27 de agosto de 2011

Um novo desafio


Um novo começo é diferente de começar de novo. Ele chega de repente. Carregado de sonhos e planos. Vagão de expectativas, onde, lado a lado, também estão certeza e incerteza. Este ‘tal novo começo’  será bom? Mas se não for bem assim como pensamos? Só saberemos lá adiante. No vai e vem desta ansiedade, porém, está a consistência da certeza daquilo que deixamos para trás.

Quando me distraí, este trem apitou e já estava numa estação, onde as máquinas apenas esperavam um passo meu para partir. Estavam sobre trilhos de promessas, dos quais, apenas era capaz de imaginar até onde poderiam me levar. Pensei, calculei, conversei, pedi conselhos a maquinistas experientes por estes percursos da vida.

Assumi um trem rumo a Santa Cruz do Sul. A partir de agora, terei de conduzi-lo pelos vales da região da RBS TV, por, pelo menos, 10 meses. Dado este passo, um até breve aos que ficam.

Daquele jeito, com o trem em movimento, começando a partir, metade do corpo pela janela, a mão abana. O coração acelera. Felicidade de partir com a certeza de que existem pessoas que conquistamos a amizade e o carinho! Sentimentos que podemos carregar para qualquer lugar que formos. Lembranças felizes.

Apesar da mudança, continuarei a escrever  para este espaço, até  quando for possível. Porém, agora, com um novo olhar. Pretendo trazer relatos de experiências em uma cidade colonizada por alemães, assim como em São Pedro do Sul.

Sempre retornarei à terra. Sempre com o olhar crítico, de um fiscal do dia-a-dia, de um jornalista. Jamais deixarei de comentar, criticar se for preciso e elogiar quando merecido. Meus contatos permanecem os mesmos e todos podem e devem manter contato quando acharem necessário.

O mais importante a compartilhar com vocês, neste momento, é o sentimento de gratidão para com todos aqueles que contribuem com este trabalho. Aos leitores e críticos. Obrigado!

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Até a hora de parar



Começar, todos sabem e gostam muito. Mas parar, que pode ser mais importante, todos desconhecem como fazer. Relações sérias. De um, dois ou 30 anos. Não importa o tempo, as pessoas precisam aprender a dizer “chega”, que não dá mais para levar adiante.

No início de um relacionamento, o tempo passa e ninguém vê nada em volta, a não ser aquela paixão calorosa. O casal está lacrado em um casulo de adrenalina. É tão lindo e tão bom. Pena que não é para sempre. É aí que entra a sinceridade. Que os contos de fada fiquem apenas nos livros e animações. É preciso encarar a realidade, a vida a dois é difícil e exige sacrifícios.

As relações estão em um nível de superficialidade neste século 21, tais quais, as desilusões amorosas estão cada vez mais frequentes. È a corrupção dos casais. A famosa traição. Estes são egoístas. Não querem perder quem está ao seu lado. Aquele porto seguro, sabe? Então, cometem banalidades, aos tempos atuais, mas de conseqüências irreversíveis a quem sofre uma traição.

E o dizer “basta” serve também para quem há anos está com uma pessoa e, mesmo que não saia com outras, mantém o relacionamento por pena do companheiro (a). Ou, quem sabe lá por que. A pessoa está indecisa se quer ou não. Fica naquela. Que felicidade é essa? Este sacrifício é necessário? Se a pessoa está com dúvida, em respeito ao próximo, ela precisa parar por ali. Se resolva sozinha, depois assuma responsabilidades com alguém.

A humanidade está carente de sinceridade. Um ato sincero é ter coragem. É assumir responsabilidades planejando o futuro. Que todos possam começar um romance, o amor e a paixão fazem bem. Mesmo que não seja algo como num livro de romance. Contudo, saiba a hora de parar, não seja covarde, não pise naquele (a) que tanto já lhe deu. Dizer “não dá mais”, quando verdadeiro, também é bonito.

sábado, 13 de agosto de 2011

A luta tem de ser local


Segurança. Essa é a palavra de ordem em São Pedro do Sul. A que tem estado em todas as rodas de conversa da cidade. Acontecimentos violentos que têm repercutido na imprensa e chamado a atenção da sociedade, nos últimos meses, suscitam o debate. Nas últimas semanas, a Brigada Militar (BM)intensificou as ações nas ruas, com a realização de blitze em diversas regiões do município.

Geralmente contando com o apoio do efetivo de Toropi, a BM está parando veículos, pedestres e identificando suspeitos. Passou a circular mais pelas ruas centrais e em alguns bairros. Levando a sensação de segurança. Espantando aqueles que promovem a desordem e coibindo assaltos. Mas o principal, e que mais chama a atenção, é a redução das brigas e confusões na praça.

Uma simples ação da polícia. O básico que a BM deveria fazer e, que hoje, precisa do apoio de policiais de cidades vizinhas. Os governos (estadual e federal) estão esquecidos das cidades pequenas. Pouco investem em segurança e educação. O estado deixa a desejar nestas áreas. Conta com as estratégias dos comandos locais, para que se virem como possam. Assim mesmo, se virem como der. É assim que tem sido feito há muitos anos.

Os governantes não estão preparados para conter a violência. Não há efetivo suficiente, condições de trabalho adequadas e salários dignos. Quanto vale a vida de um policial para o estado? Para vítimas e a sociedade os serviços de um policial não têm preço.

Está na hora das políticas públicas serem pensadas para o interior. A prioridade ainda é para grandes cidades. Mas as drogas, principalmente o crack, não conhecem fronteiras. Elas promovem a violência e a sociedade de cidades menores não está preparada para esta onda criminosa. Essa é a hora de unir forças entre todos poderes locais. A população, por meio de associações e autoridades, precisam se reunir e buscar soluções. Somente assim, acredito, será possível dar um basta nos atos de violência.

sábado, 6 de agosto de 2011

O fim da bandidagem

Agora os bandidos e vândalos de São Pedro do Sul estão com os dias contados. Adeus vagabundagem! Ninguém irá ver estes rapazes de má índole destruir bancos, pichar a caixa d’água, destruir o patrimônio público. Chegou o fim dos esfaqueamentos e garrafas quebradas em cabeças. Ora, estes meliantes (como costuma dizer a polícia) são ingênuos! Jamais pensariam que um dia a prefeitura pudesse e teria a audácia e a coragem de podar as árvores da praça. Comemorem seres de bem e de paz, que pagam os impostos em dia, a segurança está garantida, os galhos foram cortados.

            Essa coisa de instalar câmeras de vigilância para flagrar os bandidos, como sugere o Ministério Público Estadual (MP) ao município, é coisa ultrapassada. Além disso, é muito caro! E pode ser constrangedor para os assaltantes. Imaginem só, eles seriam reconhecidos e, quem sabe, depois, até presos. Ah, e o direito de imagem? Quem iria pagar! Quantos processos isto não daria, hein?

            O negócio bom é podar galhos. A luz do sol passa mais. E à noite? Por um período tem lua cheia. Todo mundo se enxerga nesta fase. Não pense que as oito lâmpadas, fixadas no centro da praça, são insuficientes para iluminar todo local. Não! Eram os galhos das árvores que atrapalhavam. Você não percebe isto? Agora a luz viaja no espaço. Exceto embaixo da caixa d’água. Mas quem vai passar por ali mesmo? Ah, tem uma lâmpada lá.

            Quem se interessa por estes troncos, cheios de folhas, destas raízes fincadas há um século, no solo são-pedrense? Um pouco menos, quem sabe um pouco mais que cem anos. Tanto faz! A prefeitura tem toda liberdade para fazer o que bem entender com as árvores. Está na legislação. Pode até cortar a facão, deixar lascas. Primeiro segurança, depois se pensa no resto. Esta história de meio-ambiente, camada de ozônio e CO2, aquele papo furado dos ambientalistas, é coisa de cidade grande e de quem, provavelmente, não tem o que fazer.

            Tem gente tão feliz com a idéia que já podou todas as árvores do pátio de casa. O cachorro, acostumado a cuidar do espaço ocioso, tirou férias. De furioso e “rosnento” passou a bobão e babão. Sai para a noite atrás de cadelinhas no cio. Não se preocupa mais com o ladrão que pula o muro com um saco nas costas. Virou coisa de desenho animado. As árvores foram podadas. Para garantia da família, algumas até foram decepadas.

            Investir em iluminação para quê, se a galera do mal vai destruir os postes depois? Povinho sem educação esse, hein? Este choro de pouco policial, deixe para lá. É só “limpar” a praça que todo mundo vê o que acontece. Bandido não gosta de ser visto. Se a idéia é levada adiante às grandes cidades, será a revolução do século 21. Será o fim da violência! E das árvores também.

domingo, 31 de julho de 2011

Onde passado e presente se encontram

Foto: Bernardo Bortolotto
Talvez seja o ponto de referência mais lembrado pelos são-pedrenses. Não há de haver uma pessoa na cidade que não tenha passado por cima ou por baixo da Ponte Seca. Sejam as crianças a brincar pelos trilhos, os adultos espiarem o horizonte nas caminhadas à noitinha ou os mais velhos, a recordar quantos trens já pegaram e rodaram por aqueles trilhos que cortam pátios e ruas.

Quem sabe a Ponte Seca, como nós são-pedrenses a chamamos, tenha algum nome, em homenagem a alguém especial da nossa terra, e não sabemos. Ela é conhecida desta forma, porque ali está desde os primeiros anos de São Pedro do Sul e as pessoas já a  tinham como referência geográfica.

A Ponte Seca está impregnada de história. Época dos trens de transporte. Da ligação São Pedro-Santa Maria pela malha férrea. Este era apenas um dos itinerários possíveis. Viagens passíveis de muitos causos, risos, prazeres e descontentamentos. Quilômetros percorridos que hoje transitam somente a memória de quem embarcou naqueles vagões.

A ponte de concreto, não é apenas uma ligação da Avenida Walter Jobim com a Rua 15 de Novembro, é o elo com o passado são-pedrense. Ponte que hoje é pouco valorizada, afinal, lá, de vez em quando, passa um trem por de baixo.

Embora a cidade tenha muitas características que remetam ao município, para uns o barco do santo pescador, para outros a ossada do dinossauro encontrado neste chão e, ainda, as madeiras petrificadas. Para mim, o símbolo e a maior referência de São Pedro do Sul é a Ponte Seca.

De lá é possível de enxergar e admirar o céu rosado quando o sol nasce e o alaranjado do entardecer. Das guardas da nascem a perspectiva para o centro da cidade e às torres das principais igrejas são-pedrenses, católica e evangélica. É lá que o presente se encontra com o passado.

domingo, 24 de julho de 2011

Embarque das 7h55min

O sono desperta com o berro de um rádio relógio desafinado. Estica o braço, com toda a preguiça da manhã depositada sobre ele, e dá um tapa no botão soneca. Cinco minutos depois, pontualmente, afinal pontualidade é a honra dos ponteiros, o aparelho volta a fazer uma gritaria. Após levantar da cama, no inverno, a primeira coisa a se fazer no dia é espiar entre as frestas das persianas e procurar o sol.

Muitos dias já amanheceram cinza. Nas ruas, as pessoas somem em meio a tanta neblina e umidade no ar. O nariz congelado é um termômetro do corpo a amaldiçoar o frio. Apesar de inúmeras roupas pesadas, encolhido em meio a lã pendurada nos ombros e cintura, nada se pode fazer com a chuva. Ou pior, aquela garoa desgovernada a vir de cima, dos lados e por baixo do guarda-chuvas.

Quando o sol brilha o mundo muda. As pessoas deixam de resmungar. Falam, cantam, comemoram no calorzinho do sol, nos intervalos de jornadas indispensáveis. No ônibus que pego todas as manhãs, o motorista dá bom dia em tom maior. Sorri, faz um comentário sobre o frio com certo desprezo e, ao fim, com gosto diz: “pelo menos teremos um solzinho para esquentar”.

O cobrador conta as moedas animado. Libera a roleta e segue conversando com os clientes. A todos passageiros que embarcam, uma palavra sobre um assunto qualquer e, para o grande final, fala do tempo. O sol sairá nesta manhã. O azul do céu e o espaçamento entre as nuvens anunciam a manhã ensolarada.

O bom humor coletivo que o sol transmite torna a vida mais simples e agradável. Terceira parada, a porta do ônibus abre e ela embarca. Com o som do salto das botas no piso metálico se anuncia. Denuncia seu estilo e poder. O cobrador, que já estava tagarela com o provável surgimento do sol, lhe deseja um bom dia, distribui sorrisos e atira palavras ao ar.

Ela senta, em meio ao casaco de lã preto que cobre todo tronco, passa pela cintura, quase chega às botas de couro também pretas, quase batendo nos joelhos. Olha pela janela. Espia para o céu. Deve estar pensando sobre o tempo. Sorri de volta para o cobrador a falar, quase pular, já não se sabe mais se pelo sol ou pela presença daquela mulher.

De pele clara, quase branco neve, e cabelos escuros na metade das costas. Não pude ver seus olhos, mas deviam, pelo descompasso do homem que a contempla, ser de uma profundidade desigual. O sinal toca, alguém irá descer. Ela vai desembarcar. Atravessa o corredor. Segura-se nos mastros para não desequilibrar ao frear do carro. A porta abre. O cobrador não para de desejar um “ótimo isso, ótimo aquilo”. Ela vira o pescoço, balança os cabelos lisos e compridos, se despede e desce à calçada. Só não desce seu perfume que fica a vagar no corredor.

O sol já começa a aparecer, mas aquele rapaz emudece. Olha pela janela, mira para a calçada e a vê se distanciar. Desaparecer na quebrada de uma esquina. Conta moedas, mexe nas mãos, balança as pernas. Está ansioso. A espera do ônibus das 7h55min, do dia seguinte.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Abaixo de zero


A sequência do frio que tem feito no Rio Grande do Sul é a maior da última década. Coisas que os gaúchos já haviam percebido no dia-a-dia, ao despertar todas as manhãs e sair de casa. Neste período de temperaturas negativas, quem pode, assiste da janela, no quentinho da lareira, fogão a lenha ou de um cobertor enrolado no corpo, o branco da geada que cobre os campos, árvores, pátios.

O inverno é a inspiração do conforto. É a procura do calor. A estação da calmaria, quando as pessoas se recolhem para seus aconchegos. Assim como pássaros encolhidos dentro de seus ninhos fofos e quentes. É dormir embaixo de uma pilha de cobertas pesadas, aquelas que incentivam um bom sono. Até dá vontade de deitar mais cedo.

O frio é a xícara de café quente e esfumaçada na mão, em pé na janela, ao amanhecer. A feijoada, carreteiro, a sopa e a massa, em um jantar demorado. O vento no rosto, enquanto os pés quebram o gelo formado da geada. Temperaturas abaixo de zero que fazem os gaúchos vestirem uma pilha de roupas. É a estação mais eclética, das passarelas urbanas e seus modelos a desfilarem casacões, toucas e mantas.

Inverno é o estalo da madeira queimando, enquanto o fogo se alimenta da lenha do fogão. É o calor e a reunião da família em volta da lareira. O livro aberto. São os meses do pinhão cozido ou assado. Dias para estar com os amigos. É quando os solteiros se cansam da solidão e se rendem à companhia. Nela encontram o calor de alguém disposto a dividir abraços, filmes e pipoca. E, claro, o calor para aquecer a alma, o amor.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Melhora aqui, piora lá


Sempre imaginei enxergar grande parte do centro de São Pedro do Sul com ruas asfaltadas. Transformação que, aos poucos, foi ocorrendo. A cada final de semana percebe-se uma nova cara do centro da cidade. Começou com a pavimentação, pintura e agora tachões. Melhorias fundamentais para o transporte e progresso da cidade.

O asfalto, do trevo da cidade até as vias do centro, deram outra cara ao município. Está se preparando para o aumento da frota de veículos. Aliás, asfalto que já chega com atraso. Quem tem o privilégio de andar de carro sabe bem disso. Afinal, são as ruas de maior tráfego. Algumas adaptações terão de ser feitas, outras já foram executadas e algumas mal feitas.

Mal feito, por exemplo, é pintar o meio-fio da calçada de amarelo (sinalização que indica ser proibido estacionar) e permitir o estacionamento de veículos. Por exemplo, a Rua Expedicionário Almeida. Óbvio que não há fiscalização. Outra coisa, para as administrações pensarem, é criar um órgão que fiscalize o trânsito da cidade. Hoje, esta é uma obrigação da Brigada Militar, que cá entre nós, não tem como dar conta do recado.

A cidade está crescendo de fora para dentro. Quem percorre os bairros da cidade percebe, até pelas cores, quantas casas novas foram construídas e quantas obras estão em andamento. Crescimento este que demanda de melhorias e avanços na infraestrutura de um município com casas e construções antigas.
O asfalto é fato e incontestável. Está aí, facilitando a vida de muita gente. Trazendo conforto aos que se locomovem com seus veículos. Principalmente nos passeios de domingo. Pavimentação que desde criança ouço falar e que nunca alguém havia feito. Agora está. Só espera-se que o mesmo não ocorra com a Praça Crescêncio Pereira, atirada à própria sorte. Há meses a prefeitura promete uma reforma. Só promete. Que não seja necessário tantos anos para que tenhamos bancos novamente. Se não, será ótimo deslizar sobre o asfalto, mas péssimo para apreciar uma paisagem de abandono.

domingo, 26 de junho de 2011

Imagens da manhã do primeiro domingo do inverno em São Pedro do Sul. Fotos: Bernardo Bortolotto


















Cama sagrada



Parece um imã, mas não são os opostos que se atraem. É a familiaridade, o calor e o conforto. Quase impossível passar pela cama da mãe e não querer tirar uma soneca. É tão mais quente e aconchegante. É seguro. Refúgio da infância nas noites de chuvas, raios e pesadelos.

A criança, quando está  com medo à noite, pede asilo no quarto da mãe. O pai pode até  resistir. A mãe irá se comover com aqueles olhos inchados e face contorcida de pavor. Vai achar um canto e acolherá o pequeno.

Cama de mãe está sempre arrumada. Os cobertores descansam sobre o colchão sem um amassado sequer, como se fossem estendidos e passados a ferro quente. Parece simples. Não é. Tem de ter experiência e mãos cuidadosas para isso. Cálculo perfeito para balançar as cobertas para cima, esticá-las e fazê-las balançarem ao vento até repousarem com suavidade. Puxa uma ponta aqui e outra lá. Troca as fronhas dos travesseiros, dá uma afofada e põe na extremidade.

Elas arrumam para os filhos bagunçarem logo depois. As mães reclamam, afinal de contas, não há tempo sobrando para ficar organizando a reveria. Móvel sagrado, que para ela, é o campo de energia, porto-seguro e o símbolo da organização. Os tons que o dia terá estampado em lãs e edredons. Mulheres que, na correria do dia, não percebem o que é para o filho estar sobre o terreno macio daqueles lençóis cheirosos, macios e limpos. Em meio ao casulo dos cobertores.

Filhos que, não importa quanto tempo passe, irão flertar com a cama da porta do quarto da mãe. Deitarão sempre que der. Sentirão o cheiro, sentirão aquela maciez. Segurança. Terão, em alguns minutos de sono, a paz e a tranquilidade que recebiam quando eram crianças. Se lembrarão de como a vida é boa, quando é possível sair no meio da noite para um canto, na cama da mãe.


sábado, 18 de junho de 2011

Não é para todas que fica bem


A minissaia foi a revolução feminina. As pernas e coxas antes escondidas passaram a desfilar pelas ruas do mundo. Embora ela exista desde o final de Primeira Guerra Mundial, foi na década de 60 que foi popularizada no mundo, graças à estilista Mary Quant. E que sucesso. Aprovada pelas mulheres e ovacionada pelos homens, a minissaia virou a rainha das vestes. 

No começo a minissaia sofreu certa resistência. Aqueles preconceitos todos, machismos e feminismos que permeavam as sociedades do século passado. Este pedaço de pano veio mesmo foi para provar que a mulher podia ser independente e ter personalidade. Elas, aos poucos, foram experimentando o sabor da apreciação e desejo masculinos. 

Não há dúvidas que os homens da época babavam e até caíam diante de um belo par de coxas. Afinal de contas, não era todo dia que uma joia vestia um pequeno pedaço de pano na cintura, pouco acima do joelho. A partir daí, aprovada com unanimidade, a minissaia ganhou outras formas. 

O mercado masculino, principal adepto da ideia, começou a fazer exigências, a selecionar as saias mais curtas e que vestissem os melhores pares de pernas. Hoje ela evoluiu e encurtou para microssaia. Essa mesma que há algum tempo era usada por cima de um macacão. Virou peça de luxo, aquela usada em ocasiões especiais e festas do fim de semana. 

A microssaia é, quando muito, vestida com uma meia-calça por de baixo. E ela é tão justa no corpo que desenha o pouco que esconde. Provoca ainda mais que a antecessora e mascara as imperfeições, proibidas neste mercado da beleza. E aí, entra a concorrência feminina. A disputa entre elas procura mostrar as coxas mais belas. Os homens agradecem. 

A minissaia revolucionou o mundo. Tornou-se objeto de desejo de homens e mulheres, impulsionando as exigências e tendências mundial. É hoje, banalizada em microssaias que mal cobre a virilha. É um pedacinho de pano, que cai muito bem nas cinturas deste planeta, a desfilar pelas passarelas urbanas. Belas microssaias, mas que à própria mulher do camarada não combina.

sábado, 11 de junho de 2011

Ciúme, só com remédio



Já defendi teses contra o ciúme. Interpretei este sentimento da pior maneira possível, como um destruidor de casais e lares. Extirpei do peito quando percebi que começava a esquentar o sangue. A exclusão desta reação, aos poucos, tornou tudo mais calmo e tranquilo. No começo até que foi bom, mas depois, esta ausência foi ficando chata.

Ciúme é uma linha tênue entre o controle e o descontrole. É o efervescer do sangue, expelido em palavras nas relações de milhares de casais. É um alerta sem a iminência de perigo. É o sinal vermelho sem hora marcada para acender. Ciúme é a pura provocação, birra e discórdia, disfarçado. Afirma que trabalha em nome de paixão.

É o irmão chato, desconfiado e metido a protetor do coração. Acha que o mundo conspira contra ele. Faz alardes, gosta de chamar a atenção. Tanto que passou a ser desprezado. "Ah, deixa isso pra lá, é puro ciúme", dizem por aí. Mas não, o ciúme não pode ser deixado de lado. Ele é um amigo que levanta a poeira e precisa de conselhos.

Sentir ciúme é quebrar os pratos e se arrepender. É a certeza de que ninguém é dono de ninguém. Mas que existe alguém que vale a pena preservar. O controle deste sentimento está na maneira de interpretá-lo e como vamos deixá-lo sair do peito. E não adianta, só existe uma maneira de controlar os impulsos ciumentos: é na base do remédio. Somente doses exageradas de amor e suor podem acalmá-lo.

Então, deixe-se contaminar pelo ciúme, dê os conselhos certos a ele e vá se tratar com muito, mas muito amor, neste dia dos namorados e sempre!


sexta-feira, 10 de junho de 2011

Preconceito com dias contados


O preconceito está com os dias contados. Embora ainda esteja enraizado nos corações humanos, ele ser extinto. Ei, você, que mantém este sentimento guardado, prepare-se para o futuro. Reveja seus hábitos. As discussões em torno do assunto, embora estejam lentas, já começaram.

Toda transformação começa devagar. O fato é que a luta contra o preconceito já iniciou. Quando esta palavra é dita, o primeiro assunto que vem na memória é o da homofobia, bastante discutido pelo governo federal nos últimos dias. A intenção do estado é combater as agressões contra pessoas com opções sexuais distintas. Atitudes insanas movidas pela ignorância de quem as praticam.

Para agredir qualquer pessoa não é necessário um golpe de karatê, basta uma palavra, um gesto e uma ação mal intencionados. Quantas vidas e mentes brilhantes se perdem por aí, graças a pensamentos preconceituosos, pequenos e baixos, que resultam em atitudes semelhantes?

O mundo ingressou em um período de transição, onde, no futuro, afirmam especialistas, na haverá mais esta coisa de sexo. Fulano é heterossexual, Siclano é homossexual, Beltrano é bissexual. As pessoas vão se atrair pelo que são e sentem uma pelas outras. Pelo amor. Difícil pensar assim? Pode ser o preconceito batendo à sua porta.

Por que uma pessoa tem o direito de interferir nas opções das outras, pelo simples fato de não se agradar de tal escolha? A liberdade, a democracia, nos impõe a responsabilidade de ter respeito ao próximo. O mundo, hoje, é para quem sabe ouvir mais do que falar. Ainda vivemos sob a sombra da herança deixada pela ditadura, mas isto também vai acabar.

O Brasil tem líderes do século passado, estão defasados. Porém, uma parcela da população mundial, que não se envolve com a sujeira da politicagem, realiza as verdadeiras políticas sociais no combate às injustiças e a favor dos direitos humanos. É desta parte do planeta que surgem as ações que estão direcionando os caminhos da raça humana.

A população do mundo luta pela liberdade há séculos. Está registrado nos livros por quantas mudanças o homem passou desde sua existência. Quanta evolução e civilização. Basta ler as páginas da vida, que terás a certeza de que a mudança, para melhor, é inevitável, apesar de lenta. E, para estar pronto para este futuro, devemos nos livrar da prisão dos pequenos e grandes preconceitos. É preciso ter tolerância e capacidade para compartilhar os bons sentimentos.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Quem vai acabar é a raça humana


"O governo quer alternar no Senado 11 pontos da reforma do Código Florestal, aprovada na semana passada pela Câmara. Fazem parte da lista a anistia irrestrita aos desmatadores, o ressarcimento dos serviços agrícolas, a participação dos Estados na regularização ambiental. O Palácio do Planalto também quer ampliar os benefícios para a agricultura familiar." Este é o trecho de abertura da reportagem da Folha de São Paulo (Senado deve mudar 11 pontos do Código Florestal), desta segunda-feira.

Mais uma vez percebe-se que os interesses políticos, particulares e dos grandes produtores estão a frente da maioria da população. As alterações apontadas pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, mostram o quanto o governo brasileiro patina, patina e não sai da lama.

Estamos discutindo o que não há necessidade de ser discutido. Uma questão de sobrevivência do meio ambiente e, principalmente, da raça humana. Nossos representantes se sujeitam a tal ignorância só para agradar aos homens de "poder". Está em questão um código florestal que, ao invés de preservar, quer consumir o que permanece preservado.

Enquanto pouquíssimos fazendeiros lucram milhões derrubando árvores, invadindo áreas de mata virgem e desmatando, milhões de pessoas sofrem as consequências e pagam um preço incalculável mundo a fora.

Nós, seres humanos impulsionados pelo consumo desenfreado, também temos parcela de culpa ao consumir esta madeira e por poluir o planeta de outras maneiras. É a lei da oferta e da procura.

A natureza, como diz Arnaldo Jabor no comentário abaixo, deverá sobreviver aos ataques que sofre, "quem vai acabar é a raça humana". Tudo, pela ganância de uma minoria eleita pela maioria, que se deixa comandar pelo dinheiro sujo destes assassinos da natureza.



Chegará o dia que teremos de nos adaptar ao ambiente que produzimos? Chegará o dia em que não teremos a liberdade de respirar oxigênio puro, que não saia de um tubo amarrado nas costas? De sentir o vento bater no rosto, isolados em alguma estufa antipoluição? Talvez.

sábado, 28 de maio de 2011

Cinco centavos


Quem pega ônibus de Santa Maria para São Pedro do Sul sabe que a passagem custa R$ 5,95. Também sabe que se der R$ 6 de pagamento, dificilmente receberá os R$ 0,05 de troco. Se faltam moedas de cinco centavos em circulação no país ou se é norma da empresa não devolver o valor, é difícil saber, mas ainda existem cobradores dispostos a devolver o ‘pequeno’ troco.

A cada vez que não recebo os cinco centavos, sempre fico pensando que são cerca de 20 pessoas embarcando nos ônibus nas paradas, ao longo da saída de Santa Maria. Se todas pagarem a passagem com R$ 6 e nenhuma receber os cinco centavos, a empresa está embolsando R$ 1 por viagem. Supondo que sejam cinco viagens com este volume de passageiros, dará R$ 5 por dia e R$ 25 de segunda à sexta-feira. Ao mês são R$ 100.

Claro, é uma suposição. Só sei do meu troco que quase nunca volta. Tudo bem, o que são R$ 0,05? Podem ser R$ 100 (ou mais) em um mês. Aliás, quem tem R$ 5,95 contados na carteira? Já tentei levar o valor exato, mas são muitas moedas e não tenho onde carregar. Até já pensei em fazer um escândalo quando me dissessem que não tinham troco, mas do que adiantaria? Conservar minha paciência vale mais que esta pequena moeda.

No último coletivo que embarquei, há duas semanas, estava tão lotado que fiz a viagem em pé, com mais 16 passageiros enfileirados no corredor. Na hora de pagar a passagem, adivinhe: dei R$ 6 em moedas, então o cobrador disse:

            - Bá, não tenho cinco centavos.

Enquanto ele passava para cobrar o próximo passageiro, se espremendo entre um e outro, respondi:

            - Não tem importância, nenhum cobrador me devolve o troco.

Surpreso, ele olhou para trás. Colocou a mão lá no fundo do bolso, balançou um pouco e puxou para fora um punhado de moedas na mão. Catou aqui e ali sob a fraca luz interna do ônibus. Espichou o braço em minha direção, com um pequeno metal na ponta dos dedos.

            - Achei! Então vou ser o único a te devolver o troco – disse ao sorrir orgulhoso.

Retribuindo o esforço do raro cobrador em me devolver os cinco centavos, respondi com gesto de afirmação e um sorriso.

            Mas não fez mais que a obrigação.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Educação no Brasil

Comentário de Arnaldo Jabor no Jornal da Globo.

"...pobre não precisa estudar. Muita gente acha que, é até melhor, que sejam analfabetos. São até mais fáceis de enganar. Basta que saibam servir."

sábado, 21 de maio de 2011

Tênis novo


Sair de casa vestindo um par de tênis novo é como ser um disco de alvo de dardos. Todos, em sua volta, vão tentar acertar um dos pés. Desvia aqui, escapa lá. Um passo apertado, agora um largo. Mas não adianta, sempre acabam acertando o alvo. O pior é que fica a marca da sola no couro. Aliás, se não desenhar o solado, não tem graça. E tome cuidado, porque vão querer pisar novamente.

 
O calçado é branquinho, lá vou eu com toda calma e tranqüilidade, cuidando até com a poeira do chão, calculando cada passo. De repente, quase entrando em um ônibus, uma criança, com aquele pezinho tamanho beirando os 30, pisa na ponta dos meus 43. Sim, o tênis era branco e ficaram as listras daquele pequeno calçado.

Maldito pezinho! Com tanto espaço para correr e pular encontrou logo o meu tênis novo para fazer de chão. Uma raiva me tomou de súbito. Respiração profunda e, pensando bem, era uma criança e nem sujou tanto assim.

Um pano úmido resolveu o problema. Então, tentei uma segunda vez. Saí de casa e percorri quadras. E nenhuma pisada. Nada! O tênis estava intacto, branco e ninguém estava percebendo. Já chegava ao destino. Ninguém iria pisar nos calçados. Faltava pouco.

Ao virar para o lado, uma mãe desastrada, empurrando um carrinho de bebê, passou com a roda da frente em cima do pé esquerdo. Sim! Desta vez, uma criança em um carro atropelou o tênis novo.

Será que pisam nos meus pés habitualmente e eu noto só quando visto um par de tênis novo? Então, lembrei que é coisa de criança. É tão comum elas fazerem isso, que até sem saber já pisam nos pés dos outros.

No colégio, quando alguém aparecia com algo novo nos pés, a turma fazia fila para dar aquela pisada. “Primeiro padrinho”, gritava um. “Segundo... terceiro... quarto...”, diziam outros tantos. Então, assim pensei que todo mundo já fez isso um dia, inclusive eu. Acabei por concluir o quanto éramos chatos.

Então, esperando em uma fila, na semana passada, duas meninas e um rapaz, na faixa dos 15 anos, conversavam no guichê da rodoviária. De repente, o guri olha para baixo e, com um movimento rápido, como um especialista no assunto, dá um pisão no pé da amiga, batizando o tênis (branco) novo. A menina ao lado, para não ficar em desvantagem, deu outra pisada, em um gesto quase de karatê, garantindo o posto de segunda madrinha.

Apavorado, me restou recolher os pés, olhar para os lados e assobiar disfarçadamente.

Mosaico


O 'mais' sempre, à primeira vista, demonstra-se interessante. A casa 'mais' bonita, o carro 'mais' potente, a pessoa 'mais' querida e daí por diante. É grande, chama a atenção e destaca o sujeito. Porém, ao longo de tempos e jornadas, tem-se percebido que são as pequenas coisas as responsáveis por fazer a diferença.

É a construção do mosaico de detalhes que as grandes coisas e atitudes se constroem. Por exemplo, quantos tijolos são necessários para construir uma casa? Sem o cimento, não seria possível juntá-los. Sem o cal, a areia e a água, não haveria o cimento. Por aí vai, e você já deve ter lembrado de outros exemplos.

Geralmente, as pessoas tentam levar a vida esquecendo-se do pequeno. Buscam chegar ao que há de mais interessante sem montar o mosaico de por menores. Com isso, as lacunas vazias ficam ocas e causam acidentes durante o percurso. Quando o vazio é grande, algumas pessoas patinam, sem sair do lugar.

Para seguir o caminho, é necessário prestar a atenção na estrada. Saber em qual chão se está pisando, do que é feito e onde é firme. É mais interessante observar a paisagem à sua volta do que imaginar e viver em um futuro que existe dentro da cabeça. Sonhar é importante. É o combustível que leva as pessoas a alcançar seus objetivos, a chegar o 'mais' de cada um. Porém, se manter (no) 'mais' vai depender de como o mosaico de detalhes foi construído.

sábado, 7 de maio de 2011

Quando a campainha tocar


Sábado, faltam pouco para as 10h. Raios de sol atravessam a vidraça, formam desenhos na parede. As atividades daquela manhã são as habituais de todo último dia da semana. Passa uma vassoura, arruma o quarto, tira o pó dos móveis, lustra aqui e um pouco lá. Em seguida, prepara o mate amargo.

A rotina seguia calma, seu percurso natural, como o tique-taque dos ponteiros do relógio. Até que, a campainha rompe o silêncio. Ela vai devagar, espia e abre a porta. O corpo gela, objetos e móveis parecem desaparecer. Ondas de emoções despertam os sentidos. Sente calor e frio ao mesmo tempo. O corpo treme com a visita inesperada.

Volta anos na memória. Lembra daquele choro. Sente o calor de um abraço úmido e minúsculo, de alguém que sequer sabe o que é um abraço. Recorda do primeiro dia de aula, de quantas vezes estudaram juntos. Quantas horas brincaram no chão da sala. Surge a imagem de um sorriso leve, doce e sincero. Risada de criança.

Não importa quantos anos passem, sempre será uma criança. Agora, com responsabilidades, querendo ensinar. Há anos deu um beijo, um abraço e adeus. O arco fez a flecha, a preparou e a lançou ao mundo. Por quantos lugares passou, obstáculos venceu e perdeu.

Hoje, tudo volta à cabeça, contemplando cada minuto doado de vida às crianças. Peito se enche de orgulho. O tempo passou e eles sobreviveram sozinhos. São estes homens e mulheres, chamados de filhos, que transbordam o coração da mãe de alegria, quando batem à porta, de volta para a casa.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Real união

Participar de um conto de fadas, podia ser um sonho, mas foi realidade. Mesmo que pela televisão ou internet já vale. O mundo acompanhou, se emocionou e dividiu a emoção do "sim" no casamento do príncipe inglês William Arthur Philip Louis com a plebeia Catherine Middleton, a Kate, na sexta-feira. Costume distante dos brasileiros, parecia só existir em filmes e estórias em quadrinho. Essa coisa de "família real" saiu de moda no país há cerca de 500 anos. Mas este enredo deu um sabor diferente ao casamento dos jovens, porém, a verdadeira união real está, mesmo, no amor.

Poderia ter chapéus arquitetônicos na cabeça dos convidados, dos familiares. Poderiam passar carroagens brilhantes, de fogo ou até voando. As portas do castelo poderiam se abrir e receber os noivos com a música do coral de anjos Anglicanos. O casamento só poderia ser possível após uma batalha incansável contra a família real que era contra a inclusão de uma pessoa comum. Todas fábulas e contos poderiam se misturar à cerimônia, mas o sapo não vira príncipe se o beijo não for sincero.

Está certo que o beijo do casal na sacada não foi lá grandes coisas, porém, imagine que para casar fosse necessário ouvir dezenas de assessores, dizendo o que fazer, em quanto tempo deve ser feito e qual a melhor maneira para agradar o público. Esperar a segurança liberar a área para aparecer na sacada e, sem esquecer de sorrir e acenar, assim, "sempre simpático". A naturalidade, a essas alturas, já foi para o espaço. Encenação pura. Mas as pessoas merecem.

Mesmo que a cerimônia seja um espetáculo midiático, que seja irreal, que necessite de um aparato gigantesco e atenção especial à multidão ao lado de fora. Haja o que houver, se o amor e a paixão não estiverem presentes nesta união, não importa mais nada. Somente o amor e a paixão transformam qualquer união em conto de fadas, homens e mulheres em duques e duquesas.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Julgado e condenado

Foto: Paulo Cesar

O ser humano tem um dom (ou carma?). É o da capacidade de julgar, condenar. Mudar de julgamento de um momento para o outro e sem conhecimento de fato. Por exemplo, Jesus Cristo. O mesmo povo que o seguia, foi o mesmo que o julgou e o condenou à morte. Por quê? Pode ser a famosa fofoca. Ouve daqui, fala lá e as estórias ganham formas diferentes. E, quando é assim, geralmente, alguém vai para a cruz.

Outro exemplo disso, é de um caso recente. Ganhou repercussão na região central do estado, porque envolveu um acadêmico da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Local onde milhares de estudantes de todo país se cruzam todos os dias. O episódio da semana teve como protagonista um universitário de 34 anos que teria em sua página do Orkut manifestações preconceituosas contra raças e sexos.

No sábado, dia 16, a Polícia Federal (PF) deteve o acadêmico e o encaminhou para um hospital psiquiátrico. O homem já fazia um tratamento e havia deixado de frequentar as consultas. Com isso, as autoridades fizeram com que voltasse a cumprir com suas obrigações. Afinal, o tratamento já faz parte de uma penalização por porte ilegal de arma, no ano de 2005.

Diante da página na internet, porte ilegal de arma e PF buscando o estudante, dá para tirar quê conclusão? Na UFSM a boataria dizia que ele iria instalar uma bomba no Centro Tecnológico. Outras pessoas, que sequer um dia conversaram com ele disseram ser um sujeito quieto, sempre na dele. A maioria das pessoas julgou e condenou. Afinal, é um dom (não?). Alguns até disseram que além de tudo isso, ele era esquizofrênico. Opa, ser doente é ser um criminoso?

A PF deixou claro que o universitário não é investigado por nada. Não há provas, fatos ou qualquer circunstâncias que levem a crer que seja um terrorista ou criminoso. A única coisa concreta é: ele está doente e precisa de tratamento.

Este é mais um episódio, resumido, de mais alguém que vai para a cruz antes de sua história ser esclarecida. Este período é um bom momento para refletir, porque nem todos, além de Cristo, terão a capacidade de ressuscitar três dias depois e ainda amar seus semelhantes. Da boa lição tirada aqui, é da importância de identificar algum problema com o próximo e buscar ajuda. Mas sem julgamentos e condenações precipitadas.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Choque de realidade

Esta semana (14.04) tive o contato com uma realidade distante do mundo que me rodeia, no dia-a-dia. Apesar de ter conhecimento da miséria que atinge parte da população, foi um choque visitar algumas casas em condições desumanas. Durante a produção de uma reportagem, em um bairro pobre de Santa Maria, me deparei com pessoas sobreviventes da nossa sociedade.

Foi na manhã de quinta-feira, abaixo de muita chuva, que saí para cobrir os estragos provocados pela chuva forte da madrugada, que atingiu nossos vizinhos. A primeira informação dava conta que duas famílias seriam removidas de suas casas, pois a água havia invadido as residências e um barranco ameaçava desmoronar.

As famílias residem em casas de madeira, que podem ser chamadas de casebre. Uma improvisação da vida. Havia parede e teto. Na primeira que visitei, eram apenas dois cômodos: cozinha e sala/quarto. A segunda, não passava de uma caixa quadrada de madeira. Tudo se amontoava ali: televisão, geladeira, cama. Em cada uma três pessoas: uma mãe e dois filhos pequenos.

De repente, mais tarde, deitado no sofá, vem na lembrança o modo de vida daquelas pessoas. Como podem viver naquele lugar? Quais são as perspectivas destas crianças? Como seria a vida sem o quentinho do edredom, da água do chuveiro. Não sentir o piso gelado, com os pés descalços. Chegar em casa e ter a mesa vazia. Como pode ser a vida sem a certeza do amanhã?

São pessoas que vivem à margem da sociedade, em condições humilhantes e muitas vezes descartadas pelos seres humanos.

Ao final da reportagem, quando já me despedia, as crianças salvavam seus cadernos escolares e, ainda abaixo da chuva, sem saber para onde iriam, conseguiam sorrir. A chama da esperança está acesa.

sábado, 9 de abril de 2011

É preciso dizer bom dia

Foto: Bernardo Bortolotto

Não tem sido fácil encarar o ser humano nas últimas semanas. As notícias que entram nas casas das pessoas são estarrecedoras. Guerras espalhadas pelo mundo, genocídio de civis na Líbia, irresponsabilidade no trânsito resultando em mortes de inocentes e, por último, nesta semana, a chacina de crianças e adolescentes em uma escola do Rio de Janeiro. Diante disso, é inevitável dizer bom dia e não ficar constrangido.

Deprimente, revoltante, triste e, por aí, podem surgir inúmeros adjetivos para classificar como as pessoas reagiram diante da tragédia, na escola do Rio de Janeiro, na última quinta-feira. Crianças correndo de um lado para o outro, ensanguentadas e feridas com arma de fogo. A preocupação com o filho (parente ou amigo) que estava em alguma escola naquela hora foi inevitável.

O Brasil inteiro chorou a morte de 12 crianças. O país não compreendeu os motivos do assassino. Afinal, é injustificável. Pela carta deixada pelo autor das mortes, vem a certeza de um psicopata. A cada linha escrita fica expressa um sintoma de doença, loucura, rejeição afetiva e revolta social.

Vazio. Esse é a primeira sensação de quem assistiu à tragédia e soube que o psicopata cometeu o suicídio. Um ato de covardia, de quem planeja um ataque destes e se exime das responsabilidades das leis humanas. Porém, das leis divinas não terá como escapar.

A tristeza e a depressão invadiu os corações, modelou semblantes e provocou o derramamento de lagrimas. Por instantes, a esperança em um país justo começa a sumir. A perplexidade abate as demais pessoas. Diante de tudo isso, é preciso ter fé e acreditar nos seres humanos. Acordar pela manhã, olhar firme nos olhos e desejar um 'bom dia', como súplica de um futuro melhor e mais justo.



quarta-feira, 6 de abril de 2011

O fim das paradas

Quem vai a Santa Maria de ônibus e costuma desembarcar no centro da cidade, terá que mudar de hábito. A partir de maio, deve entrar em vigor um decreto que proíbe o tráfego de ônibus de linha intermunicipal no centro do município. Uma tentativa de desafogar o trânsito.

A parada mais próxima do centro de Santa Maria será na esquina das avenidas Presidente Vargas e Ângelo Bolson. Os coletivos terão de ir até a rodoviária por fora da cidade. Para nossos vizinhos, pode ser uma medida que ajude a melhorar o trânsito, mas é uma medida paliativa e com prazo de validade vencido.

Milhares de passageiros, grande parte são-pedrenses, irão sofrer com tal decreto. Necessitarão de táxi ou de um coletivo urbano. Aumentando os gastos. Por sua vez, tornando inviável, para muitos, ir trabalhar de manhã e voltar à tarde, da cidade vizinha.

A Secretaria de Controle e Mobilidade Urbana (de trânsito) diz que 128 coletivos deixarão de circular nas vias do centro. Contudo, o que são 128 veículos por dia, em uma avenida onde passam coletivos urbanos de cinco em cinco minutos? O trajeto que os intermunicipais seguem é o mesmo. Que mudança significativa há nessa alteração? Quem vive em Santa Maria sabe que esse não é problema do trânsito, de uma cidade mal planejada.

Nossas autoridades deveriam tomar uma medida e buscar o diálogo com a cidade vizinha, para evitar que centenas de pessoas sofram prejuízos. Se não houver uma solução, o jeito será utilizar meios alternativos, como vans. Assim, as empresas sentirão nos cofres e lutarão em nosso favor.

Agora, o que não se pode esquecer, é o nome do responsável por essa alteração, o secretário Marcelo Bisogno. Abra o olho, ele foi candidato a deputado estadual nas eleições passadas e deverá tentar o pleito nas próximas. O que pretende ganhar com os santa-marienses, com esta medida paliativa, perderá em dobro em São Pedro e região.

domingo, 27 de março de 2011

Palavras cruzadas


Paciência. É esse o exercício, que geralmente, todo homem pratica quando está perto de uma roda de mulheres. Uma grita daqui, outra fala de volta, enquanto duas conversam sobre assuntos paralelos, na mesma hora. Não tem como compreender o que elas estão falando. Muito menos, seguir suas linhas de raciocínio. Mas, com paciência, entrar no meio deste bate-papo pode ser uma experiência muito bacana.

Lá estão elas, sentadas uma ao lado da outra. A televisão ligada, a música tocando e a conversa não para. Do outro lado, eu observo, atentamente as variações, expressões e a constante troca de assuntos.

Elas precisam de apenas alguns segundos para pegar uma palavra e transformá-la em inúmeros temas. Lembram-se de um fato de outro dia, em outro lugar e riam da circunstância. Em menos de um minuto, o assunto já se evaporou. Virou tantos outros, como se fosse pulverizado. Se espalha pela sala, como gotículas de água. Contagia o ambiente.

De repente sai um “olha isso!”, todos olham para ela. A exclamação partiu da novela, da televisão. Sim, entre tantos assuntos paralelos, elas também conseguem prestar atenção à televisão. Ter idéias mirabolantes. Sorrir e enrijecer a testa, segundos depois. Misturar ficção com realidade.

Depois de tantas conversas e assuntos, elas param. Faz se um silêncio. Olham para mim e ordenam: “tu não vai continuar tua história?”. Na minha cabeça uma confusão. Uma mistura de assuntos inacabados. Interrompidos por outras novidades. E como só conseguia pensar em um tema, retornamos à primeira conversa.

O debate durou minutos até, uma delas, lembrar de outra hora e se perder novamente. Foram boas risadas em algumas horas, imerso no universo feminino. É uma experiência legal, onde é possível compreender por que elas reclamam que não ganham atenção. Um pouco de atenção aos seus assuntos as faz tão bem e dá tão pouco trabalho. Basta abrir os ouvidos, não é preciso dizer nada.