terça-feira, 31 de maio de 2011

Quem vai acabar é a raça humana


"O governo quer alternar no Senado 11 pontos da reforma do Código Florestal, aprovada na semana passada pela Câmara. Fazem parte da lista a anistia irrestrita aos desmatadores, o ressarcimento dos serviços agrícolas, a participação dos Estados na regularização ambiental. O Palácio do Planalto também quer ampliar os benefícios para a agricultura familiar." Este é o trecho de abertura da reportagem da Folha de São Paulo (Senado deve mudar 11 pontos do Código Florestal), desta segunda-feira.

Mais uma vez percebe-se que os interesses políticos, particulares e dos grandes produtores estão a frente da maioria da população. As alterações apontadas pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, mostram o quanto o governo brasileiro patina, patina e não sai da lama.

Estamos discutindo o que não há necessidade de ser discutido. Uma questão de sobrevivência do meio ambiente e, principalmente, da raça humana. Nossos representantes se sujeitam a tal ignorância só para agradar aos homens de "poder". Está em questão um código florestal que, ao invés de preservar, quer consumir o que permanece preservado.

Enquanto pouquíssimos fazendeiros lucram milhões derrubando árvores, invadindo áreas de mata virgem e desmatando, milhões de pessoas sofrem as consequências e pagam um preço incalculável mundo a fora.

Nós, seres humanos impulsionados pelo consumo desenfreado, também temos parcela de culpa ao consumir esta madeira e por poluir o planeta de outras maneiras. É a lei da oferta e da procura.

A natureza, como diz Arnaldo Jabor no comentário abaixo, deverá sobreviver aos ataques que sofre, "quem vai acabar é a raça humana". Tudo, pela ganância de uma minoria eleita pela maioria, que se deixa comandar pelo dinheiro sujo destes assassinos da natureza.



Chegará o dia que teremos de nos adaptar ao ambiente que produzimos? Chegará o dia em que não teremos a liberdade de respirar oxigênio puro, que não saia de um tubo amarrado nas costas? De sentir o vento bater no rosto, isolados em alguma estufa antipoluição? Talvez.

sábado, 28 de maio de 2011

Cinco centavos


Quem pega ônibus de Santa Maria para São Pedro do Sul sabe que a passagem custa R$ 5,95. Também sabe que se der R$ 6 de pagamento, dificilmente receberá os R$ 0,05 de troco. Se faltam moedas de cinco centavos em circulação no país ou se é norma da empresa não devolver o valor, é difícil saber, mas ainda existem cobradores dispostos a devolver o ‘pequeno’ troco.

A cada vez que não recebo os cinco centavos, sempre fico pensando que são cerca de 20 pessoas embarcando nos ônibus nas paradas, ao longo da saída de Santa Maria. Se todas pagarem a passagem com R$ 6 e nenhuma receber os cinco centavos, a empresa está embolsando R$ 1 por viagem. Supondo que sejam cinco viagens com este volume de passageiros, dará R$ 5 por dia e R$ 25 de segunda à sexta-feira. Ao mês são R$ 100.

Claro, é uma suposição. Só sei do meu troco que quase nunca volta. Tudo bem, o que são R$ 0,05? Podem ser R$ 100 (ou mais) em um mês. Aliás, quem tem R$ 5,95 contados na carteira? Já tentei levar o valor exato, mas são muitas moedas e não tenho onde carregar. Até já pensei em fazer um escândalo quando me dissessem que não tinham troco, mas do que adiantaria? Conservar minha paciência vale mais que esta pequena moeda.

No último coletivo que embarquei, há duas semanas, estava tão lotado que fiz a viagem em pé, com mais 16 passageiros enfileirados no corredor. Na hora de pagar a passagem, adivinhe: dei R$ 6 em moedas, então o cobrador disse:

            - Bá, não tenho cinco centavos.

Enquanto ele passava para cobrar o próximo passageiro, se espremendo entre um e outro, respondi:

            - Não tem importância, nenhum cobrador me devolve o troco.

Surpreso, ele olhou para trás. Colocou a mão lá no fundo do bolso, balançou um pouco e puxou para fora um punhado de moedas na mão. Catou aqui e ali sob a fraca luz interna do ônibus. Espichou o braço em minha direção, com um pequeno metal na ponta dos dedos.

            - Achei! Então vou ser o único a te devolver o troco – disse ao sorrir orgulhoso.

Retribuindo o esforço do raro cobrador em me devolver os cinco centavos, respondi com gesto de afirmação e um sorriso.

            Mas não fez mais que a obrigação.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Educação no Brasil

Comentário de Arnaldo Jabor no Jornal da Globo.

"...pobre não precisa estudar. Muita gente acha que, é até melhor, que sejam analfabetos. São até mais fáceis de enganar. Basta que saibam servir."

sábado, 21 de maio de 2011

Tênis novo


Sair de casa vestindo um par de tênis novo é como ser um disco de alvo de dardos. Todos, em sua volta, vão tentar acertar um dos pés. Desvia aqui, escapa lá. Um passo apertado, agora um largo. Mas não adianta, sempre acabam acertando o alvo. O pior é que fica a marca da sola no couro. Aliás, se não desenhar o solado, não tem graça. E tome cuidado, porque vão querer pisar novamente.

 
O calçado é branquinho, lá vou eu com toda calma e tranqüilidade, cuidando até com a poeira do chão, calculando cada passo. De repente, quase entrando em um ônibus, uma criança, com aquele pezinho tamanho beirando os 30, pisa na ponta dos meus 43. Sim, o tênis era branco e ficaram as listras daquele pequeno calçado.

Maldito pezinho! Com tanto espaço para correr e pular encontrou logo o meu tênis novo para fazer de chão. Uma raiva me tomou de súbito. Respiração profunda e, pensando bem, era uma criança e nem sujou tanto assim.

Um pano úmido resolveu o problema. Então, tentei uma segunda vez. Saí de casa e percorri quadras. E nenhuma pisada. Nada! O tênis estava intacto, branco e ninguém estava percebendo. Já chegava ao destino. Ninguém iria pisar nos calçados. Faltava pouco.

Ao virar para o lado, uma mãe desastrada, empurrando um carrinho de bebê, passou com a roda da frente em cima do pé esquerdo. Sim! Desta vez, uma criança em um carro atropelou o tênis novo.

Será que pisam nos meus pés habitualmente e eu noto só quando visto um par de tênis novo? Então, lembrei que é coisa de criança. É tão comum elas fazerem isso, que até sem saber já pisam nos pés dos outros.

No colégio, quando alguém aparecia com algo novo nos pés, a turma fazia fila para dar aquela pisada. “Primeiro padrinho”, gritava um. “Segundo... terceiro... quarto...”, diziam outros tantos. Então, assim pensei que todo mundo já fez isso um dia, inclusive eu. Acabei por concluir o quanto éramos chatos.

Então, esperando em uma fila, na semana passada, duas meninas e um rapaz, na faixa dos 15 anos, conversavam no guichê da rodoviária. De repente, o guri olha para baixo e, com um movimento rápido, como um especialista no assunto, dá um pisão no pé da amiga, batizando o tênis (branco) novo. A menina ao lado, para não ficar em desvantagem, deu outra pisada, em um gesto quase de karatê, garantindo o posto de segunda madrinha.

Apavorado, me restou recolher os pés, olhar para os lados e assobiar disfarçadamente.

Mosaico


O 'mais' sempre, à primeira vista, demonstra-se interessante. A casa 'mais' bonita, o carro 'mais' potente, a pessoa 'mais' querida e daí por diante. É grande, chama a atenção e destaca o sujeito. Porém, ao longo de tempos e jornadas, tem-se percebido que são as pequenas coisas as responsáveis por fazer a diferença.

É a construção do mosaico de detalhes que as grandes coisas e atitudes se constroem. Por exemplo, quantos tijolos são necessários para construir uma casa? Sem o cimento, não seria possível juntá-los. Sem o cal, a areia e a água, não haveria o cimento. Por aí vai, e você já deve ter lembrado de outros exemplos.

Geralmente, as pessoas tentam levar a vida esquecendo-se do pequeno. Buscam chegar ao que há de mais interessante sem montar o mosaico de por menores. Com isso, as lacunas vazias ficam ocas e causam acidentes durante o percurso. Quando o vazio é grande, algumas pessoas patinam, sem sair do lugar.

Para seguir o caminho, é necessário prestar a atenção na estrada. Saber em qual chão se está pisando, do que é feito e onde é firme. É mais interessante observar a paisagem à sua volta do que imaginar e viver em um futuro que existe dentro da cabeça. Sonhar é importante. É o combustível que leva as pessoas a alcançar seus objetivos, a chegar o 'mais' de cada um. Porém, se manter (no) 'mais' vai depender de como o mosaico de detalhes foi construído.

sábado, 7 de maio de 2011

Quando a campainha tocar


Sábado, faltam pouco para as 10h. Raios de sol atravessam a vidraça, formam desenhos na parede. As atividades daquela manhã são as habituais de todo último dia da semana. Passa uma vassoura, arruma o quarto, tira o pó dos móveis, lustra aqui e um pouco lá. Em seguida, prepara o mate amargo.

A rotina seguia calma, seu percurso natural, como o tique-taque dos ponteiros do relógio. Até que, a campainha rompe o silêncio. Ela vai devagar, espia e abre a porta. O corpo gela, objetos e móveis parecem desaparecer. Ondas de emoções despertam os sentidos. Sente calor e frio ao mesmo tempo. O corpo treme com a visita inesperada.

Volta anos na memória. Lembra daquele choro. Sente o calor de um abraço úmido e minúsculo, de alguém que sequer sabe o que é um abraço. Recorda do primeiro dia de aula, de quantas vezes estudaram juntos. Quantas horas brincaram no chão da sala. Surge a imagem de um sorriso leve, doce e sincero. Risada de criança.

Não importa quantos anos passem, sempre será uma criança. Agora, com responsabilidades, querendo ensinar. Há anos deu um beijo, um abraço e adeus. O arco fez a flecha, a preparou e a lançou ao mundo. Por quantos lugares passou, obstáculos venceu e perdeu.

Hoje, tudo volta à cabeça, contemplando cada minuto doado de vida às crianças. Peito se enche de orgulho. O tempo passou e eles sobreviveram sozinhos. São estes homens e mulheres, chamados de filhos, que transbordam o coração da mãe de alegria, quando batem à porta, de volta para a casa.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Real união

Participar de um conto de fadas, podia ser um sonho, mas foi realidade. Mesmo que pela televisão ou internet já vale. O mundo acompanhou, se emocionou e dividiu a emoção do "sim" no casamento do príncipe inglês William Arthur Philip Louis com a plebeia Catherine Middleton, a Kate, na sexta-feira. Costume distante dos brasileiros, parecia só existir em filmes e estórias em quadrinho. Essa coisa de "família real" saiu de moda no país há cerca de 500 anos. Mas este enredo deu um sabor diferente ao casamento dos jovens, porém, a verdadeira união real está, mesmo, no amor.

Poderia ter chapéus arquitetônicos na cabeça dos convidados, dos familiares. Poderiam passar carroagens brilhantes, de fogo ou até voando. As portas do castelo poderiam se abrir e receber os noivos com a música do coral de anjos Anglicanos. O casamento só poderia ser possível após uma batalha incansável contra a família real que era contra a inclusão de uma pessoa comum. Todas fábulas e contos poderiam se misturar à cerimônia, mas o sapo não vira príncipe se o beijo não for sincero.

Está certo que o beijo do casal na sacada não foi lá grandes coisas, porém, imagine que para casar fosse necessário ouvir dezenas de assessores, dizendo o que fazer, em quanto tempo deve ser feito e qual a melhor maneira para agradar o público. Esperar a segurança liberar a área para aparecer na sacada e, sem esquecer de sorrir e acenar, assim, "sempre simpático". A naturalidade, a essas alturas, já foi para o espaço. Encenação pura. Mas as pessoas merecem.

Mesmo que a cerimônia seja um espetáculo midiático, que seja irreal, que necessite de um aparato gigantesco e atenção especial à multidão ao lado de fora. Haja o que houver, se o amor e a paixão não estiverem presentes nesta união, não importa mais nada. Somente o amor e a paixão transformam qualquer união em conto de fadas, homens e mulheres em duques e duquesas.