O jornal Diário de Santa Maria desse final de semana está muito bom. Todas editorias estão recheadas de reportagens ótimas. Entre os conteúdos, destaco aqui o artigo da página 4, escrito pelo editor de opinião, Marcos Fonseca. Fala sobre o inverno gaúcho, das dificuldades para enfrentá-lo e da falta de política de prevenção ao frio.
Os últimos dias foram de recorde de frio. Em Santa Maria, a temperatura mínima do ano foi registrada na quinta-feira: 0,2°C. Segundo os meteorologistas, trata-se de uma das mais fortes massas de ar polar dos últimos anos. Algo incomum, mas não raro, tampouco inesperado. Intensas massas de ar polar são registradas todos os invernos. Assim é o clima por estas bandas do Brasil.
Apesar dos veranicos – o mais famoso é o de maio, e este ano tivemos um no início de julho –, o inverno no pampa é gelado na maior parte dos dias. Impressiona que enfrentamos os rigores do clima quase da mesma maneira há quase três séculos, desde que os portugueses deram início à colonização do Rio Grande do Sul. O fogo ainda é o principal aliado dos gaúchos contra o frio. Nas casas mais simples, o velho fogão a lenha. Nas mais chiques, a lareira.
Claro que ficar ao lado do fogão a lenha ou da lareira tem seu lado romântico. Mas a tecnologia já evoluiu o suficiente para ajudar o ser humano a enfrentar as adversidades do clima. No verão, os condicionadores de ar refrigeram. No inverno, esquentam. Há outros recursos, como a calefação (sistema de água quente que circula por canos em todos os ambientes de uma casa). Nossos vizinhos uruguaios a adotam, assim como todos os países desenvolvidos. Mas e nós? Por que passamos tão mal em nossas residências?
Um dos motivos é que não há, por parte do poder público, uma política para o clima. Algo que vá além de distribuir agasalhos aos pobres no inverno. É preciso termos capacidade de geração de energia no Brasil suficiente para atender à demanda no verão e no inverno. Hoje, quando o verão é quente demais, o governo pede que se racione energia. Ou seja, que se passe calor. No inverno, o gasto de eletricidade aumenta consideravelmente com o frio. Para manter a casa quente, usam-se as tradicionais estufas, que gastam muita energia e geram pouco calor. O chuveiro elétrico é o maior vilão da conta de luz nesta época. E, ainda por cima, a energia elétrica no Brasil é uma das mais caras do mundo.
No mínimo, deveria haver um subsídio na conta de luz no inverno, a fim de os gaúchos poderem manter suas casas aquecidas pagando um valor justo. É mais do que conforto, é questão de saúde. Engenheiros e arquitetos, por sua vez, deveriam planejar imóveis adequados ao clima, de forma a não ficarem quentes demais no verão, e frios demais no inverno.
O fato é que nós, gaúchos, não podemos mais continuar sofrendo tanto com o frio. Não, pelo menos, dentro de nossas casas, do trabalho, do supermercado etc por falta de uma política que pense e lembre que, no sul do país, o clima não é de verão o ano todo.
Marcos Fonseca, Editor de Opinião do Diário de Santa Maria