domingo, 26 de junho de 2011

Cama sagrada



Parece um imã, mas não são os opostos que se atraem. É a familiaridade, o calor e o conforto. Quase impossível passar pela cama da mãe e não querer tirar uma soneca. É tão mais quente e aconchegante. É seguro. Refúgio da infância nas noites de chuvas, raios e pesadelos.

A criança, quando está  com medo à noite, pede asilo no quarto da mãe. O pai pode até  resistir. A mãe irá se comover com aqueles olhos inchados e face contorcida de pavor. Vai achar um canto e acolherá o pequeno.

Cama de mãe está sempre arrumada. Os cobertores descansam sobre o colchão sem um amassado sequer, como se fossem estendidos e passados a ferro quente. Parece simples. Não é. Tem de ter experiência e mãos cuidadosas para isso. Cálculo perfeito para balançar as cobertas para cima, esticá-las e fazê-las balançarem ao vento até repousarem com suavidade. Puxa uma ponta aqui e outra lá. Troca as fronhas dos travesseiros, dá uma afofada e põe na extremidade.

Elas arrumam para os filhos bagunçarem logo depois. As mães reclamam, afinal de contas, não há tempo sobrando para ficar organizando a reveria. Móvel sagrado, que para ela, é o campo de energia, porto-seguro e o símbolo da organização. Os tons que o dia terá estampado em lãs e edredons. Mulheres que, na correria do dia, não percebem o que é para o filho estar sobre o terreno macio daqueles lençóis cheirosos, macios e limpos. Em meio ao casulo dos cobertores.

Filhos que, não importa quanto tempo passe, irão flertar com a cama da porta do quarto da mãe. Deitarão sempre que der. Sentirão o cheiro, sentirão aquela maciez. Segurança. Terão, em alguns minutos de sono, a paz e a tranquilidade que recebiam quando eram crianças. Se lembrarão de como a vida é boa, quando é possível sair no meio da noite para um canto, na cama da mãe.


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