Há uns sete anos atrás, não recordo bem ao certo, andando pela praça com um amigo, em uma manhã ensolarada, um menino, aparentando ter dez anos, nos parou e pediu dinheiro para comer. Tudo o que tínhamos eram moedas, alguns centavos que devia dar para alguns pães. Era o que dois piás poderiam ter no bolso. Continuamos a andar pelo centro, quando passamos em frente de um fliperama(casa de vídeos-game) e tivemos uma surpresa. O guri, que tínhamos dado nossos centavos, estava lá dentro contando “moedinhas” para jogar em uma máquina. A partir daí, evitei dar esmolas.
Um caso sério! Dar dinheiro assim, sem saber como vai ser gasto é complicado. Descobrimos que o garoto tinha uma relação complicada com os pais e por isto vivia nas ruas da cidade, de um lado para o outro. Pedia colaborações para, o que toda criança em situações normais deve fazer, se divertir. Da forma dele, é claro. Sem instruções, nem acompanhamento.
Talvez as suas companhias, quem sabe o jeito de enxergar a vida e encontrar soluções para ela ou uma soma de fatores de sua infância, tenha selado o seu futuro. Passou a ter uma adolescência conturbada. Como sempre estava pelas ruas, era fácil saber de suas travessuras. As safadezas passaram a ser de mau gosto. Suas roupas e jeito contribuíam para sua marginalização. Muito aquém da margem da sociedade.
Hoje este rapaz, com quase 18 anos, está em Santa Maria. Onde? Da mesma forma como em São Pedro, nas ruas. Encontrei ele na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento(DPPA), quando fazia uma reportagem. Chegou acompanhado de dois policiais. “Indivíduo” comum no meio policial, já foi pego por furtos e roubos em mercados, farmácias, por invasão domiciliar. É famoso neste meio e os policiais o chamam de “são pedro”.
Naquela tarde ele me viu e perguntou, com sorriso e cheio de expressões: “O que faz aí? Como vai nossa cidade?”. Respondi que estava trabalhando em Santa Maria agora e perguntei: “E tu? O que veio fazer aqui?”. “Nada não. Eu só tava caminhando e fui pedir as horas pra uma mulher e ela me chamou de mendigo e disse que eu queria roubar ela. Mas eu não ia fazer isso”, respondeu. Passo dias refletindo sobre este inesperado encontro.
Bernardo B. Bortolotto - *Acadêmico de jornalismo
Envie sugestões e participe pelo e-mail: colunabbb@gmail.com
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Este texto fou publicado no jornal Gazeta Regional do dia 1º de novembro de 2008
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