domingo, 27 de março de 2011

Palavras cruzadas


Paciência. É esse o exercício, que geralmente, todo homem pratica quando está perto de uma roda de mulheres. Uma grita daqui, outra fala de volta, enquanto duas conversam sobre assuntos paralelos, na mesma hora. Não tem como compreender o que elas estão falando. Muito menos, seguir suas linhas de raciocínio. Mas, com paciência, entrar no meio deste bate-papo pode ser uma experiência muito bacana.

Lá estão elas, sentadas uma ao lado da outra. A televisão ligada, a música tocando e a conversa não para. Do outro lado, eu observo, atentamente as variações, expressões e a constante troca de assuntos.

Elas precisam de apenas alguns segundos para pegar uma palavra e transformá-la em inúmeros temas. Lembram-se de um fato de outro dia, em outro lugar e riam da circunstância. Em menos de um minuto, o assunto já se evaporou. Virou tantos outros, como se fosse pulverizado. Se espalha pela sala, como gotículas de água. Contagia o ambiente.

De repente sai um “olha isso!”, todos olham para ela. A exclamação partiu da novela, da televisão. Sim, entre tantos assuntos paralelos, elas também conseguem prestar atenção à televisão. Ter idéias mirabolantes. Sorrir e enrijecer a testa, segundos depois. Misturar ficção com realidade.

Depois de tantas conversas e assuntos, elas param. Faz se um silêncio. Olham para mim e ordenam: “tu não vai continuar tua história?”. Na minha cabeça uma confusão. Uma mistura de assuntos inacabados. Interrompidos por outras novidades. E como só conseguia pensar em um tema, retornamos à primeira conversa.

O debate durou minutos até, uma delas, lembrar de outra hora e se perder novamente. Foram boas risadas em algumas horas, imerso no universo feminino. É uma experiência legal, onde é possível compreender por que elas reclamam que não ganham atenção. Um pouco de atenção aos seus assuntos as faz tão bem e dá tão pouco trabalho. Basta abrir os ouvidos, não é preciso dizer nada.

sábado, 19 de março de 2011

Cadê a segurança?

Caro leitor, você está acostumado a ler crônicas neste espaço. Nesta edição, a coluna Crônicas será ocupada por um comentário de um episódio lamentável.

No sábado passado, a prefeitura promoveu um baile popular, na Praça Crescêncio Pereira. A promoção faz parte das comemorações de aniversário de São Pedro do Sul. Na ocasião, uma banda subiu ao palco para animar a população. E, estava animado e divertido. Estaria tudo dentro da normalidade, se não fosse pela insegurança.

            Neste evento gratuito, - com venda de bebidas alcoólicas aos arredores e lotado de gente - sabe quantos seguranças circulavam pelo local? Nenhum. Exceto, três policiais em uma esquina. Para que você compreenda leitor, a quadra da Rua Expedicionário Almeida, em frente à Praça, foi fechada para receber o público. Cerca de mil pessoas estavam presentes.

            Agora imagine você, somente três policiais, à distância, cuidando da segurança de uma multidão. Sim, caro leitor, ocorreu uma briga, entre, pelo menos, dez pessoas. Voaram cadeiras, mesas e garrafas. Sobraram empurrões, socos e chutes.

            Os policiais foram acionados. Fizeram a sua parte, da maneira como puderam, afinal de contas, estavam entre três. Vamos ressaltar que, naquela ocasião, seria bem vinda uma intervenção do Batalhão de Operações Especiais (BOE) da Brigada Militar (BM). A cidade não conta com tal recurso.

            Na edição 231 da Gazeta Regional, do dia 11 de dezembro de 2010, o comandante da BM de São Pedro, o tenente Laércio Ferraz da Silva, disse em entrevista, que o município não tem efetivo o suficiente para tais organizações populares. Veja, estava avisado, anunciado. A população sabe que a violência aumentou na cidade e, o policiamento está comprometido. Será que as autoridades públicas não leram o que disse o tenente Laércio, no final do ano passado? Dar as costas à imprensa é dar as costas à sociedade.

            Diante disso, como pôde ocorrer um show aberto ao público, sem pelo menos, ser contratada uma equipe de seguranças para circular no meio da multidão? Um segurança poderia ter evitado o primeiro empurra-empurra.

            As comemorações são bem vindas por todos. Desde que sejam organizadas e seguras. O cenário de insegurança prevalece na cidade. É alarmante. E a população não pode viver com a sensação de medo.

            São questionamentos que as autoridades terão de se fazer e discutir. O Ministério Público também
tem de fazer sua parte, cobrando respostas e atitudes dos governos municipal e estadual.

            Quanto ao desfecho da briga, pelo menos, um homem sofreu cortes no rosto e pelo corpo. Ele foi levado até o Pronto-Atendimento (PA) Municipal pelos policiais, onde recebeu atendimento. Segundo a BM, ele preferiu não registrar ocorrência policial e, apesar de tudo, ninguém foi preso. Ficou por isso mesmo.

O mínimo que se espera dos órgãos públicos, é que as investigações não parem por aí, que não haja impunidade, para que episódios como este, não se repitam.

domingo, 13 de março de 2011

Vida acelerada


Há três anos formado em administração de empresas, o jovem João Francisco, 23 anos, acaba de ser aprovado para o mestrado na mesma área. Ele está feliz. Mais ainda porque acaba de ser promovido a diretor de rede da Connection S.A., fornecedora de cabos para a produção de computadores e notebooks. Agora, ele irá administrar 17 empresas espalhadas pelo país. Seu salário passou de R$ 1,5 mil para R$ 3 mil, sem somar as comissões.

Começando o ano muito bem, o jovem já traça seus planos para o próximo. Já pensa em trocar de carro na metade do ano, vender o seu antigo e comprar um mais novo. Para as próximas férias planeja ir para uma praia, passar um tempo com os amigos. A euforia, o fez pensar em muitas coisas. Ligou para os amigos e combinaram uma comemoração durante o carnaval.

A turma se reuniu em uma rua, onde uma banda tocava músicas de carnaval. Entre felicitações e abraços, a noite era só alegria. Os isopores com cervejas começaram a chegar. E a festa se prolongou até a manhã de sábado. A banda já havia parado de tocar, mas todos da turma de João seguiam a cantar, afinal a data era especial.

Fim de festa, é hora de recuperar as energias, porque a próxima noite prometia. O jovem pegou o carro e, no caminho para casa, perdeu o controle do carro e bateu de frente contra uma carreta. Ele morreu na hora. Essa história é ficção, mas ilustra a história de muitas pessoas que perderam a vida de repente, nas estradas.

Nesse carnaval, 213 pessoas morreram em acidente de trânsito, no Brasil. Um número 48% maior que o do ano passado. Mais de duas mil pessoas ficaram feridas. A maioria dos acidentes ocorreu por imprudência dos motoristas. Alguns embriagados, outros apressados e alguns por negligência de outros condutores. Reflita e não acelere sua vida.

sábado, 5 de março de 2011

A arma contra o ditador


Antigamente, as revoltas em países dominados por ditadores, um fuzil, uma metralhadora e bombas caseiras eram as principais armas contra os regimes autoritários. O ritmo de combate, de pessoas lutando pela liberdade, permanece. É o que se pode ver nos países do Oriente Médio. Opa, aqui tem uma novidade, nós podemos assistir aos conflitos.

Gerações passadas puderam sentir na pele a imposição de uma ditadura. Milhares de pessoas gritaram por liberdade. Pediram socorro. Poucos escutaram. O som dos berros não ultrapassava as fronteiras de um país. A luta devia ser armada e ninguém podia ser pego. A única certeza de ser capturado por um ditador era a do castigo, que podia custar a vida.

A luta, pela liberdade de expressão e por direitos iguais a todos, ganhou um reforço. E quem diria: são os aparelhos celulares, as câmeras fotográficas digitais e a internet. Não importa a marca, não importa a potência. A arma mais letal contra um ditador: a divulgação de seus atos para um mundo evoluído.

Contra seu povo, dentro da Líbia, Muamar Kadafi é impiedoso, destemido e feroz. Mas fora de seu território, não passa de um criminoso covarde. É da resposta externa que o povo em guerra tira força para seguir a batalha contra o ditador. Cada vez mais isolado, perdendo aliados, inclusive de seu próprio governo, Kadafi insiste em lutar para sair de cena sem renunciar.

E, diante da tecnologia, pode ter certeza que a cena final deste episódio será gravada. Serão postados vídeos e fotografias em redes sociais em comemoração à queda do ditador e, em honra, aos que morreram lutando. E, do outro lado da tela do computador ou da televisão, haverá milhares de seres humanos aplaudindo junto.