sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Pelo simples fato de cantar

Por Bernardo Bortolotto

Não sou músico. Muito menos canto bem. Sou desafinado e não sei entrar no tom das cordas de um violão. Mesmo assim, canto no trabalho, na faculdade, em casa, em qualquer lugar. São pequenos refrãos de um sertanejo, de um rock, pagode e até forró. Se o ritmo é vibrante, bom e animador, eu solto a voz. Quem estiver ao meu lado pode cantar junto. Alguns, até acompanham. Outros dão uma risadinha. Também tem aqueles que pedem silêncio. Mas, em questão de minutos, eu repito o refrão mais uma vez. É automático. É um esforço tremendo ter que parar de cantar quando a música está entranhada na cabeça.

Nessa semana, entre um refrão e outro, uma assobiada aqui, outra ali, lembrei de um célebre cantor de São Pedro do Sul. Já é falecido. Ele cantava sem medo, sem errar. Compunha a letra das músicas na hora e nem se importava com a avaliação do público. Era aplaudido. Você também vai lembrar. Refiro-me a Antão Padilha, o cantor das ruas.

Cantava com a liberdade de criar suas canções. De dar asas ao pensamento em refrãos solicitados por um público pequeno, geralmente composto por crianças e adolescentes. O palco podia ser uma calçada. Nela sentado, até mesmo deitado, sem camisa com chinelo nos pés, a cantoria explodia, ganhava mundo. Não ganhava um tostão. Ouvisse quem quisesse ouvir (e sempre tinha alguém atento).

A única importância de sua vida era a música. Criava na mente e colocava para fora num sopro das cordas vocais. Eu nunca soube se outra coisa lhe importava. As histórias de sua vida eram variadas, com poucas comprovações. Um legítimo fala daqui, fala de lá. Ah, e ele era falado. Talvez, alguns nem o conheçam por Antão Padilha. Ouvi pessoas dizerem “olha lá, o louco das músicas. Vamos pedir uma sobre o que hoje?”. Muito pedi música.

Essa lembrança chegou até Padilha. Saí da redação para buscar um café. Cantava um refrão pelos corredores, em voz quase baixa. Seria eu, um “louco das músicas”? Jamais. Esse patamar é para poucos. Não crio minhas canções, não as penso. Reproduzo aquilo que toca no rádio ou sai em um comercial de televisão.

Talvez, eu tenha algo em comum com Padilha e demais seres cantantes. Cantar nos faz muito bem. É o alívio, a fuga do estresse, a comemoração, a ligação harmônica entre os seres, é uma linguagem. Cantarolar é um gesto simples de alegria, um sopro de felicidade que se espalha pelo ar.

4 comentários:

  1. ô se é bom cantar, né?nem importa se desafinado, sussurrando, em (des)ritmo, vale tudo! heheh :)
    legal teu blog tbm guri! já tá na minha lista.
    gde beijo!

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  2. Gostei dessa expressão: "seres cantantes". Adorei o texto Bê!
    bjos

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  3. meu pai tinha um mini disco do antao padilha!

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  4. Como posso conseguir as letras das músicas do Antão Padilha?

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