sábado, 30 de agosto de 2008

Impertinente e inevitável

É só ir para longe e ela se aproxima. Alguns minutinhos depois e já está com a gente. Só de pensar na saída, lá vem de novo. Mal educada não pede licença, chega aos gritos. Insuportável! Quer mandar a qualquer custo, em qualquer um. E tem poder para isso. Mas também tem motivos. Quando sai de perto, é um alívio. Pertinente, lembra o que não podemos fazer, nem estar perto. Dá prazer pensar em sua morte.

Acompanhando sua vítima com uma faca afiada no peito, dificulta a respiração, provoca suspiros e até choro. É responsável por atitudes não tomadas, caminhos não percorridos. Persuasiva, sabe justificar e convencer. Canalha! Sempre caímos nas armadilhas, mais cedo ou mais tarde. Contam-se os meses, semanas, dias, horas, minutos, para expulsa-la.

Distante das pessoas queridas, próximas, amadas. Longe de casa, do quarto, da cama, do travesseiro. Mesmo rejeitada, insiste em seguir. Fora da cidade, ela diz que as pessoas são desconhecidas, não sorriem. Não é como São Pedro. O sossego não é o mesmo. Nada é mais abençoado que o lar. Alguns pensam o contrário, estes bravos e corajosos são os próximos reféns da saudade.

Saudade é certeza de luta, de sacrifício, histórias deixadas para trás, em busca de algo maior, de um sonho. Sem saber onde vai dar, quais caminhos a percorrer. É bom manter esta intrometida por perto, tanto para quem vai e para quem fica. Mesmo com dor, é a fé que incentiva a vencer. E quanto mais ela atormentar, maior será a gana para matá-la, alimentando o reencontro e enaltecendo o coração de felicidade.


Bernardo B. Bortolotto - *Acadêmico de jornalismo
Crédito: a imagem utilizada nesta crônica é de autor desconhecido, captada na internet

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Texto publicado no jornal Gazeta Regional do dia 30 de agosto de 2008

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Divergências da moda


As pessoas gostam de estar na moda. Mas o que é a moda? No dicionário, moda é: “comportamento, estilo, usos, costumes que prevalecem durante algum tempo e que variam segundo os gostos e as vontades das pessoas”. Daí surge “aquilo que está na moda”, o modismo. Certo? Então, a moda não sobrevive só de grifes. A boa moda deve sugerir condutas. É um tipo de construção de personalidade. Artificial, talvez. Mas o que vale, é o status.


Na sociedade de consumo(época atual), é preciso ser igual e diferente ao mesmo tempo. Se o indivíduo não se adequar aos outros, está por fora. Excluído do meio social. Vive em outro planeta. É obrigado a comprar isto ou aquilo. Já no patamar igual do próximo, vem o ser diferente. A construção do estilo próprio. Aparecem diversos penteadas, rostos pintados, acessórios, cores berrantes, camisas amarrotadas. Até carro do próximo ano. Consumo incontrolável.


Sobretudo, surge outra tendência. É a conscientização com o meio ambiente e o compromisso social. Mobilizações informam a importância da conservação da natureza. O quanto as pessoas devem se unir para não poluir, desmatar, economizar água e alimentos(feliz daquele que tiver terra para plantar e água para beber daqui uns anos). A sociedade faz ou tenta(ou não) a sua parte.


É um choque! De uma hora para outra vem a mudança de hábitos. Deixar de lado o carro e não poluir? Evitar comprar jeans e tênis da hora(algumas marcas faturam fortunas do comprador, ao mesmo tempo, exploram o trabalho infantil no Oriente Médio)? Tem coisas que não dá para entender! E jamais sairão de moda. Como a do salário, lançada no Rio Grande do Sul e municípios. O aumento para executivos, legislativos, entre outros secretários. A moda é isto! “Varia segundo gostos e vontades das pessoas”.




Bernardo B. Bortolotto - *Acadêmico de jornalismo

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Texto publicado no jornal Gazeta Regional do dia 23 de agosto de 2008

sábado, 16 de agosto de 2008

Percebendo o ordinário

Passamos tantas vezes por certos lugares, paisagens, objetos, que com o tempo, deixamos de vê-los. Um exemplo pode ser algum item fora do lugar em sua casa. Ele está lá faz alguns dias e de tanto cruzar com o mesmo, não o enxerga mais. Torna-se comum para os olhos. Isto é normal. Em determinada ocasião, você vai ajeitá-lo se necessário. Logo, treinando seu olhar, verá o que outros não estão vendo. Levará tempo para se adaptar, mas as ruas de São Pedro são ótimas para praticar.

Na XV de Novembro, esquina com a Exp. Almeida, duas placas indicam o nome das ruas. A diferença está no patrocinador. Seria suficiente apenas uma e daria mais espaço aos pedestres. Em frente à Igreja Matriz, enquanto é substituído e consertado o calçamento da via, um telefone público(orelhão) se equilibra para não cair. Excelente objeto de estudo para os olhos que não vêem.

Caminhando à frente, vai encontrar uma biblioteca pública típica de outono, murcha, desbotada e com rachaduras. A que tantas andam aquelas paredes? Mas o preocupante mesmo está na entrada da cidade. Há mais de ano, um motorista chocou seu carro em um poste e o derrubou. Está lá até hoje, atirado no trevo, são quase dez metros de concreto esparramados. Viu isto? Não? A iluminação não tem como ver mesmo.

Ponha em prática o exercício do ver o habitual. Basta prestar um pouco mais de atenção à sua volta. O poste no trevo me intriga. Há tanto tempo lá, tem de haver um motivo. Até a grama aparam ao seu redor. Então, num dia desses, adestrando minha visão e reflexão, veio a conclusão. Os quase dez metros de concretos esparramados, serve de banco para quem quiser ir até lá, tomar um chimarrão e contemplar o outdoor à frente, anunciando a XX FEMASP nos dias 5, 6, 7 e 8 de junho.

Bernardo B. Bortolotto - *Acadêmico de jornalismo

OBS: a foto desta postagem foi removida.

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Texto publicado no jornal Gazeta Regional do dia 16 de agosto de 2008

sábado, 9 de agosto de 2008

Só isso?

Na última terça-feira, 5 de agosto, a Assembléia Legislativa gaúcha aprovou o aumento salarial da Governadora Yeda Crusius, em 143%. De R$7,1 mil passou para R$17,3 mil. O vice-governador, Paulo Feijó e os secretários de governo, receberam quase 89% de aumento: de R$6,1 mil foi para R$11,5 mil. Neste mesmo dia, a Governadora estava em Brasília, buscando apoio para reverter a lei que criou o piso salarial de R$950,00 para os professores. Com a mesma desculpa: o Rio Grande do Sul não tem condições de pagar tudo isto.


Os cortes de funcionários da Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural(EMATER), a “enturmação” que afastou professores e também alunos das escolas(aliás, o que é a educação hoje em dia?), o abandono das viaturas da Brigada Militar, sem concertos. Estes, não são suficientes para tirar o Estado do lodo.


A salvação, já está a caminho. O empréstimo junto ao Banco Mundial, o Bird, de R$1,1 bilhão será utilizado para pagar dívidas com encargos elevados. Assim, a Fazenda espera economizar entre R$150 e R$200 milhões por ano. Se sair tudo como o esperado e não for necessário pagar juros sobre este valor(1,1 bi), as classes trabalhistas podem ter seus pedidos realizados. Será?


Enquanto policiais não tem condições suficientes para proteger, professores sofrem para educar a multidão dentro da sala, outros muitos são chutados de seus cargos e buscam novas alternativas, porque o Estado não tem dinheiro para suprir tais necessidades, Yeda Crusius goza de 10 mil a mais no seu ordenado mensal. Tudo pago por aqueles que caem abaixo do seu nariz.

Bernardo B. Bortolotto – *Acadêmico de Jornalismo
Email: colunabbb@gmail.com

Texto publicado no jornal Gazeta Regional do dia 09 de agosto de 2008

domingo, 3 de agosto de 2008

40 anos/km até o cinema

Na última quarta-feira resolvi quebrar a rotina e ir ao cinema. Poucas vezes estive em um. Chegando lá, logo na fila, senti a magia do lugar. Entre adolescentes, famílias, casais, brilhavam olhos de ansiedade. Todos prontos para mais uma história. Pipocas na mão? “Xiiii... vai começar”. Em cartaz o Sex and The City. Enquanto aguardava o início, tentei imaginar esta emoção em, São Pedro do Sul de quatro décadas atrás.


De longe, se ouvia o som da junção do Cine Áurea. Todos sabiam o caminho da Rua Expedicionário Almeida(onde hoje está a loja Quero-Quero). Com potentes alto-falantes, o proprietário, Leopoldo Stein, chamava a clientela. As sessões de sábado e domingo à noite, lotavam a imensa sala. Também havia a “Domingo Matinê”. Eram três longas por fim de semana. Época que se respeitava à indicativa de idade.


Nada de pornochanchado brasileiro. Tudo legendado. Os bang-bangs americanos pareciam sair da tela. Na sala, os espectadores batiam os pés contra o chão, como se estivessem em uma perseguição, verdadeira caça ao bandido. Novas amizades surgiam no escurinho do Cine Áurea. Longe do lanterninha, claro! Quem não podia ir, ficava na frente do prédio, só para não perder a paquera. Cerca de dois cruzeiros novos custava para entrar.


Mesmo com todas as dificuldades do final dos anos 60, São Pedro do Sul trazia civilizações, mitos, costumes, conhecimento para a sociedade através da tela grande. Hoje, no século da tecnologia e comunicação, a cidade anseia por alternativas culturais. O cinema está longe da realidade do município e o caminho mais perto, são as lembranças, histórias e a imaginação.



Bernardo B. Bortolotto


E-mail: colunabbb@gmail.com
Texto publicado no jornal Gazeta Regional do dia 2 de agosto de 2008