domingo, 30 de novembro de 2008

Saindo por cima: Victor Doeler se despede da política

Colando cartazes em postes. Assim, aos 18 anos, Victor Doeler iniciou sua carreira política. Convidado pelo tio Werner Doeler, Victor ingressou no Movimento Democrático Brasileiro, hoje o PMDB. Em 1974 não era simplesmente colar cartazes. Com a ditadura em alta, tinha que sair a noite e de olhos bem abertos.

Passado os anos de chumbo, em 1988, Victor venceu sua primeira eleição. Entrou como vice-prefeito de Walmyr Dressler. Quatro anos mais tarde, aos 36 anos, foi eleito, pela primeira vez, prefeito da cidade. “Eu era muito imaturo. Queria as coisas muito rápido”, lembra. Mas o tempo se encarregou do amadurecimento e da experiência do então prefeito.

Em 2005, Doeler conta que recebeu duas chaves. Uma delas era do prédio da prefeitura. A outra, do único carro da administração, que estava com os pneus murchos. Dentro do seu gabinete encontrou alguns documentos em cima da mesa. “Quando cheguei(na prefeitura) tive que ir juntando os documentos. Não tinha nada! Não tinham arquivos”, esclarece o prefeito.

De bermuda, chinelos e uma camisa
, Victor se revela tranqüilo. Está seguro de ter cumprido seu papel em São Pedro. “Estar aqui é a possibilidade de fazer algo. É gratificante quando vemos as coisas prontas”. Em quatro anos de governo, o prefeito está satisfeito por recuperar o maquinário municipal, além de transformar a cidade em um pólo de saúde na região. “As cidades vizinhas, como Mata, Toropi, Dilermando e até Santa Maria, estão buscando tratamento aqui”, destaca.

Quando vai me servir um copo de água, Victor abre o freezer e mostra os presentes que entregaram em seu gabinete. “Estas aqui ganhei de um pessoal de Guassupi(mostrando duas garrafas de cachaça, produzidas aqui na cidade)”, apontando com a satisfação e o sentimento do trabalho reconhecido pelos moradores.

“Temos que dar lugar para os mais jovens”
, explica depois de anunciar que vai deixar a vida política. Sua família não gostou quando ele entrou para este meio e agora “chegou a hora de sair”. Victor é casado com Deisy. O casal tem dois filhos, Frederico e Patrícia. O neto, Arthur Doeler Bayer, de 8 anos, é o xodó do casal.

Depois de quase uma hora de conversa, Victor exibe fotos de seu lugar preferido. Onde mais gosta de estar. Tem suas plantações e criação de cavalos crioulos. É uma fazenda no município de Cacequi. “Só de estar lá, já estou em férias”.

Victor Doeler deixa seu mandato com saldos positivos. Pergunto se ficaram mágoas por ter perdido a eleição e a resposta é imediata: “quem recebe 5.284 votos, não pode ficar triste”.

Depois das dificuldades enfrentadas quando assumiu o executivo em 2005, ele instalou um programa de computador, onde o prefeito eleito tem acesso a tudo, até mesmo de sua própria casa. As contas do município, todas elas, apresentam superávit. E a garagem da prefeitura, hoje conta com quase dez carros e Victor garante, “todos eles com os pneus cheios”.

Victor Doeler concorreu 6 vezes em São Pedro do Sul. Perdeu 3 e venceu 3.

* Foi derrotado em 1982 na disputa para vereança. Em 1996 e 2000 perdeu para prefeito.

* Venceu em 1988 como vice-prefeito. Em 1992 e 2004 elegeu-se prefeito.

Bernardo B. Bortolotto - *Acadêmico de jornalismo

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sábado, 22 de novembro de 2008

A ponta de um iceberg

A notícia de que o Ministério Público(MP), por meio do promotor de justiça de São Pedro do Sul, Davi Lopes Rodrigues Júnior, entrou com pedido de cassação do prefeito eleito, Marcos Ernani Senger (PT), da vice Elaine Pereira, a Neneca (PMDB) e do vereador reeleito Moacir Ramos, o Gauchinho (PSDB), na segunda-feira, 17, agitou a cidade.

Durante esta semana o promotor não quis se manifestar sobre o assunto. Um servidor informou que enquanto a representação estiver em trâmite, ele não falará. De acordo com a assessoria de imprensa do MP, as acusações contra o prefeito eleito giram em torno de um cantor contratado para tocar na Ronda do CTG Itaquatiá, em 2007. Este, teria feito um verso lançando a campanha de Marcos.
Conforme o site do MP, o promotor tem provas que este mesmo cantor, “amigo e colaborador”, teria feito campanha, inclusive uma apresentação em uma festa no Passo dos Barroso, em 4 de outubro, um dia antes das eleições. Neste evento, o artista teria pedido votos para Senger, com conotações em suas canções e versos.

Não pára por aí. A acusação também é de “distribuição de carne, bebidas e transporte gratuito” para aquela localidade no dia da festa. Segundo a assessoria de imprensa do MP, o promotor Davi Lopes Rodrigues Júnior, afirma que o Passo dos Barroso é “paragem de pessoas humildes”.

Marcos Senger se diz tranqüilo em relação as acusações. “Sempre procurei fazer as coisas corretas. Há denúncias contra atos praticados por um vereador que me atingiria, porque esta pessoa teria pedido votos para mim”, relata o prefeito eleito. Quanto ao evento no Passo dos Barroso, descrito pela assessoria de imprensa do MP, o petista nega qualquer envolvimento.

Marcos contribui com um piquete, doando camisetas antes do período eleitoral. “Eu como advogado sempre auxiliei as entidades. Eu dei umas camisetas, inclusive escrito meu nome como advogado. Não existe má fé alguma”. Senger deve apresentar sua defesa em breve. Pelo menos mais três pessoas foram acusadas pelo promotor, por compra de votos(conforme a assessoria de imprensa do MP).

Para piorar, o estresse para a formação do secretariado da prefeitura é grande. A coligação, essencial para a vitória nas urnas, aumenta a dor de cabeça. Quem fica com qual secretaria? Alguns nomes foram selecionados. Entre eles, está um ex-vereador de Santa Maria, que não conseguiu boa votação nesta última eleição e ficou de fora do legislativo.

O nome de Loreni Maciel causou indignação em alguns são-pedrenses. Poucos o conhecem. Uma questão paira no ar: não poderia ser alguém daqui para esta vaga? Faltam 39 dias para o novo prefeito assumir seu posto. Até lá, muita coisa ainda deve acontecer.

Bernardo B. Bortolotto - *Acadêmico de jornalismo

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Este texto foi publicado no jornal Gazeta Regional do dia 22 de novembro de 2008

sábado, 15 de novembro de 2008

Noites violentas

São Pedro do Sul vive numa época de insegurança. No interior, as famílias vivem amedrontadas e encolhidas, devido aos freqüentes furtos, assaltos e até mesmo homicídios. No perímetro urbano, lojas são assaltadas e as brigas tomam conta dos finais de semana, nos bairros e no centro. Em cidade pequena, como a nossa, isto é assustador.

Na madrugada de sábado passado, na Praça(quase Ring) Crescêncio Pereira, começou uma confusão. A desordem era generalizada. Cadeira para um lado, garrafas voando para outro, socos e chutes. Uma pessoa(não será identificada) viu tudo e estava apavorada. “A briga começou lá e veio até a esquina. Voava cadeira”, conta.

Não sei quem eram os envolvidos, nem quantos os machucados. Um leitor relatou um fato. Na madrugada(perceberam a hora?), de sexta-feira, na Praça(e o local?), um homem cortou a perna de outro com um facão, faca ou qualquer coisa afiada. Sabe-se que, a vítima ou acusado, foi levado a Santa Maria às pressas, pois o caso ficou grave.

Nisto tudo, o mais agravante são as pessoas saírem de casa para brigar. E o pior, por motivos fúteis! Preocupante também, é a falta de policiamento. Sabe-se das más condições de trabalho(falta de equipamentos, viaturas e policiais) da Brigada Militar e Polícia Civil, mas será que nada pode ser feito? Não se pode permitir que os casos de violência tomem proporções maiores.

Quem gosta de sair, se divertir, convive com as confusões. E pode ter certeza, todo final de semana tem tumulto. Muitas pessoas já escreveram para o e-mail deste espaço e relataram estarem com medo e, por isto, não saem mais de casa. Medidas de precauções devem ser tomadas. Daqui um pouco a violência pode invadir as casas dos são-pedrenses.

Bernardo B. Bortolotto - *Acadêmico de jornalismo

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Foto: Bernardo B. Bortolotto
Texto publicado nojornal Gazeta Regional de 15 de novembro de 2008

domingo, 9 de novembro de 2008

São Pedro exporta progresso

Na noite de domingo o IBAMA e a Polícia Rodoviária Federal(PRF) haviam apreendido 95 toneladas da pedra semi-preciosa Ágata, na BR 158, na serra que liga Santa Maria com Itaara. Quem me deu maiores detalhes foi o chefe do escritório regional do IBAMA em Santa Maria, Tarso Isaía. O carregamento saiu de Salto do Jacuí e seria levado para o Porto de Rio Grande, onde embarcaria para a China. No decorrer de nossa conversa, chegamos ao fato ocorrido no dia 7 de março deste ano, na BR 287, envolvendo as madeiras fossilizadas de São Pedro do Sul, onde foram apreendidos oito metros cúbicos ou uma caçamba de caminhão cheia.

A exportação destas pedras não é ilegal. Contra a lei é a forma de extração, pois degrada o meio ambiente. É necessário uma série de licenças para escavar a terra. Mas o agravante nisto tudo é a falta de conhecimento das pessoas, inclusive de autoridades. O patrimônio de madeiras petrificadas da nossa cidade é de extrema importância para a humanidade. São 200 milhões de anos abaixo da terra, é material de pesquisas, turístico.

Quando as “nossas” pedras foram apreendidas no início do ano, também pelo IBAMA e PRF, todos sabem qual o destino delas? Será que alguma pedra voltou à cidade? A resposta é não! Elas foram distribuídas para o exército e prefeitura de Santa Maria. Toda apreensão feita deste gênero é doada a órgãos públicos, como os citados. Mas estes órgãos entram em filas para disputar o material, não é fácil de consegui-lo.

Tarso Isaía, revela que naquela época enviou um servidor a São Pedro do Sul para devolver os fósseis e uma autoridade local teria lhe dito que não queriam as pedras, “porque a cidade já tinha o bastante”. “Como entulho nossas riquezas naturais vão sendo exportadas das cidades. Riquezas que qualquer europeu, chinês, paga dezenas de dólares, por um pedaço qualquer! Infelizmente isto é uma questão cultural. Lamentavelmente.”, desabafa Isaía.

O desenvolvimento e a riqueza de nossa cidade estão sob o solo. Porque não temos ainda um reconhecimento mundial? Nossa área de fósseis é 4 vezes maior do que a de Mata. E não escuto falar de nenhum um outro local com tanta abundância de madeiras fossilizadas.

Quem sabe quando os alemães chegaram a São Pedro do Sul e levaram o esqueleto do dinossauro encontrado em nossas terras, que hoje reside em cartazes espalhados pela cidade, não perguntaram antes se poderiam levar para seu país e a resposta dada foi: “pode sim, aqui nós temos bastante”. Quem sabe?!


Bernardo B. Bortolotto - *Acadêmico de jornalismo

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sábado, 1 de novembro de 2008

“É famoso neste meio e os policiais o chamam de são pedro”

Há uns sete anos atrás, não recordo bem ao certo, andando pela praça com um amigo, em uma manhã ensolarada, um menino, aparentando ter dez anos, nos parou e pediu dinheiro para comer. Tudo o que tínhamos eram moedas, alguns centavos que devia dar para alguns pães. Era o que dois piás poderiam ter no bolso. Continuamos a andar pelo centro, quando passamos em frente de um fliperama(casa de vídeos-game) e tivemos uma surpresa. O guri, que tínhamos dado nossos centavos, estava lá dentro contando “moedinhas” para jogar em uma máquina. A partir daí, evitei dar esmolas.

Um caso sério! Dar dinheiro assim, sem saber como vai ser gasto é complicado. Descobrimos que o garoto tinha uma relação complicada com os pais e por isto vivia nas ruas da cidade, de um lado para o outro. Pedia colaborações para, o que toda criança em situações normais deve fazer, se divertir. Da forma dele, é claro. Sem instruções, nem acompanhamento.

Talvez as suas companhias, quem sabe o jeito de enxergar a vida e encontrar soluções para ela ou uma soma de fatores de sua infância, tenha selado o seu futuro. Passou a ter uma adolescência conturbada. Como sempre estava pelas ruas, era fácil saber de suas travessuras. As safadezas passaram a ser de mau gosto. Suas roupas e jeito contribuíam para sua marginalização. Muito aquém da margem da sociedade.

Hoje este rapaz, com quase 18 anos, está em Santa Maria. Onde? Da mesma forma como em São Pedro, nas ruas. Encontrei ele na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento(DPPA), quando fazia uma reportagem. Chegou acompanhado de dois policiais. “Indivíduo” comum no meio policial, já foi pego por furtos e roubos em mercados, farmácias, por invasão domiciliar. É famoso neste meio e os policiais o chamam de “são pedro”.

Naquela tarde ele me viu e perguntou, com sorriso e cheio de expressões: “O que faz aí? Como vai nossa cidade?”. Respondi que estava trabalhando em Santa Maria agora e perguntei: “E tu? O que veio fazer aqui?”. “Nada não. Eu só tava caminhando e fui pedir as horas pra uma mulher e ela me chamou de mendigo e disse que eu queria roubar ela. Mas eu não ia fazer isso”, respondeu. Passo dias refletindo sobre este inesperado encontro.

Bernardo B. Bortolotto - *Acadêmico de jornalismo

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A imagem acima foi recolhida do seguinte blog jlfreire.blog.uol.com.br

Este texto fou publicado no jornal Gazeta Regional do dia 1º de novembro de 2008