sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O meio amargo da paixão


Um pedaço de chocolate está na boca. Os lábios não mexem. Ele derrete no calor daquele pequeno espaço. Sente-se a composição de açúcar, cacau e leite se espalhar sobre a língua abaixo de um céu salivante. Aos poucos o meio amargo também toca o paladar. Ele escorre pela boca e a saliva escoa pela garganta. Saboreie cada centésimo de milésimo enquanto o chocolate abusa de você. Sinta o prazer com um suspiro prolongado. Lembre-se, daqui um pouco ele será consumido e deixará de existir. Você ficará com o gosto na lembrança, entranhado na língua, mas não poderá senti-lo ou tê-lo novamente.

Desejo. Só mais um pedaço. Pequena parte recheada de provocações. O amargo sutil fica preso à língua e você o sente. Vontade de voltar àqueles instantes de sensações intensas. É impossível provar um tablete, sempre se deseja mais do chocolate meio amargo. A textura vira líquida na boca, é provocante, causa overdose de prazer e parece sob controle.

Fogo. O chocolate é como chamas causadoras de incêndios destruidores que insistem acesas enquanto um batalhão luta contra elas. Arde em pequena escala até que se revolta e põe a língua a salivar. Basta lembrar do último pedaço. Há segundos sua respiração emanava o delicioso aroma ao leite.

Descontrole. Você se dá conta que o controle foi perdido na prova, no primeiro pedaço quando não passava de uma vontade insignificante. Tudo começa aos poucos, com o sabor do novo, diferente. O chocolate acaba. Foi tão rápido. E você quer sentir novamente as sensações que escorriam pela boca, passavam pela respiração. O desejo arde em descontrole. Você procura, revira e não encontra. Nada está ao alcance do meio amargo.

A paixão é um pedaço de chocolate meio amargo. Derrete na boca, escorre pela garganta e deixa o gosto na língua, no suspiro e na memória. É provocante, percorre as vias respiratórias, prova teu sabor como se você estivesse com o controle. São chamas que não se apagam. É a vontade expelida no suor. A paixão, assim como o chocolate, vai embora e deixa o desejo de só mais uma vez em seu lugar.

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