Há quase 20 anos conheci uma pessoa que possuía a árvore mais preciosa do planeta. No pátio de sua casa, na cidade de Campo Bom (região metropolitana de Porto Alegre) ela estava plantada. Era uma árvore de balas.
Os sabores dos “frutos” eram de amendoim, morango, doce de leite e chocolate. Que planta maravilhosa. Eu era uma criança. Ele era um quase velho, muito sábio e gentil.
Uma vez, ou até duas por ano, ele vinha trazer os frutos da árvore. Criançada ansiosa para comer as balas. Mas, não era simples para ganhar uma. Aquele senhor fazia charadas, perguntas. “Qual a capital do Brasil?”, “Quanto é 2 vezes 3?”.
Quem acertasse a resposta, num bolo de crianças (todos primos), ganhava umas “balinhas” do meu tio-avô. E quem errasse, acabava ganhando uma “colher de chá”. Ele fazia uma pergunta bem fácil, que os outros com as mãos cheias, não podiam responder.
O tempo passou e eu descobri que a árvore de balas era um supermercado. Não mudou nada. Mesmo eu sendo um quase adulto, sempre ganhava as balas quando ele vinha visitar a irmã (minha avó), os sobrinhos e sobrinhos-netos.
Muito ouvi durante minha vida, o “tio Luiz chegou!”. Todos saíam de suas casas para abraçar o “tio Luiz” e a “tia Ilse”, sua esposa. Ele chegava de bermudas até os joelhos, de cor clara e um sapato leve, quase da mesma cor. Sempre usava um chapéu. Alguns até pareciam ser feitos de “caixa de ovo”. Era engraçado. Era sua característica.
Dos últimos três anos para cá, ele não pôde mais nos visitar. Ele contraiu uma doença terminal. No último dia de agosto desse ano, o tio não resistiu e nos deixou.
Quando recebi a notícia, de maneira involuntária, minhas lembranças buscaram um flash. Eu e meus primos, um bando de crianças, estávamos cercando o “tio Luiz”, ansiosos para responder rápido a cada pergunta e ganhar um punhado de balas.
Mais que uma árvore do doce, o tio plantava a harmonia em família. Ele criou uma fábula para nos ensinar coisas básicas da vida, um pouco de história, de matemática, de português. Para nos reunir e nos ver sorrindo. Um amontoado de crianças feliz. Um aglomerado de adultos em volta ajudando seus pequenos.
A árvore de balas viverá em minha memória para sempre. Sinto que fiz parte de um conto. Um senhor que “regava todas as manhãs” a sua árvore da felicidade e da alegria da gurizada. Que todo ano fazia a colheita e vinha distribuir aqui em casa.
O tempo passou, eu cresci e o senhor partiu. Foi embora na hora que deveria ir, aos 84 anos. Se foi depois de cultivar uma árvore de sorrisos, respeito, sabedoria, união e amor entre a família.
Agora, plante essa semente no céu, conte seu segredo sobre sua árvore cativa, faça a criançada daí de cima sorrir e aprender com a pureza do amor. Crie um conto. Continue a semear o bem ao lado de Deus.