sábado, 22 de agosto de 2009

Pra onde foi meu sono?


Passava da meia–noite quando me deitei para procurar o sono perdido. Ele estava distante. Pensei que no escuro eu pudesse encontrá-lo com mais facilidade. Entrei num emaranhando de pensamentos e devaneios. O esforço parecia em vão. Para sumir deste jeito o sono trata logo de fazer aliados para despistar, ao máximo, seu paradeiro. Mas, eu não desisti e parti para esta aventura.


Já havia chovido muito e, quando repousei, a mãe natureza resolveu dar uma trégua. Bastou a chuva cessar para o sono conquistar aliados poderosos. Meus ouvidos não perdiam um barulho do outro lado da janela. Briguei com a atenção. Tentei convencê-la que os sons não passavam de um truque deste maldito que por travessura se escondia. Estava quase perto de recapturar este infeliz e os cães começaram a latir. O que é pior, todos ao mesmo tempo. Consegui identificar cinco tons variados de latidos, em distâncias diferentes. Para quem tentava dormir a sinfonia não estava agradável.


Então, o sono, distante de mim, envia a curiosidade para bem perto. Será uma cadela em dia de cio? O carteiro não entrega cartas a essa hora. Se for, por que o cachorro do vizinho, aqui no fundo, não para de acoar? Pra piorar, a ansiedade passa a ter alucinações e de medo se agarra na atenção. As duas juntas iludem o pensamento e me levam a crer ser um bandido. De repente, estala uma madeira. “Estão tentando entrar na casa!”, disse o desespero. É melhor esperar. Mais um movimento eu levanto. “Tenha calma, é só a ventania”, tranquiliza uma voz baixinha. Era o raciocínio. Tentava me ajudar.


Alguém chamava e de susto pulei na cama e arregalei os olhos. Era o despertador a tocar. Faltavam quinze minutos para as seis da manhã. Refleti por cinco minutos. Depois de todo aquele diálogo com os sentidos, não conseguia lembrar em qual momento o sono, de mansinho, me encontrou e me pôs a dormir.


E-mail: colunabbb@gmail.com

Texto publicado no jornal Gazeta Regional do dia 22 de agosto de 2009

Um comentário:

  1. Parabéns pelo texto Bernardo. Acho muito legal este estilo que escreves. Consegue prender o leitor até o fim, justamente pelo mistério do desfecho da história. Já fiz várias tentativas para tentar produzir algo do gênero, mas não adianta. Não consigo. hehe

    Abraço!

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