sábado, 24 de abril de 2010

Rabiscos intrigantes

Onde esteve noite passada? Saiu por aí sem dar explicações. Não teve medo? Não pensou nas conseqüências! Isto é perturbador. É compreensível. A noite estava agradável. A temperatura, nem quente e nem fria, e a luz das estrelas também aguçaram minha vontade. Vontade ou instinto? Ou seria nosso destino? Um encontro poderia não resistir à pureza da lua. Mas, o tempo que carrega da vida levou ansiedade para dentro de ti.

Diga o que te incomoda? São pensamentos carregados de dúvidas. De incertezas do futuro. Quem sabe do presente? As coisas estão mudando. As calçadas, as ruas, tudo está diferente. Quanto tempo não saía assim? É minha presença ou minha ausência que te sufoca? Ainda não sei. Amor ou ódio? Longe disso! Jamais saberei.

Caminhou tanto. A brisa da noite te faz bem? Ou seria apenas um desabafo exprimido em teus passos lentos. Não, não. É o prazer do vento no rosto, nos cabelos. A energia soprada dos mares e dos pólos faz bem ao teu corpo. O tempo passou e as coisas não são mais iguais.

As pessoas deixaram de ser hospitaleiras? Estão mais distantes. Os visitantes, aqueles que não te conhecem, nem olham, nem cumprimentam. E os conhecidos não te enxergam mais. Estão fingindo. Já não reconhecem ou não lembram mais de você. É a distância do teu dia-a-dia, da tua realidade. Mas, para onde foi a borboleta? Não posso senti-la. Cortaram suas asas, já não vibram mais no ar.

Depois desta madrugada chegou a alguma conclusão? Espero que sim. A inquietação persiste! É normal. Não? O tempo é o pincel que rabisca a mudança e a mudança a linha da perturbação. Linha estranha para o primeiro olhar, mas bela para quem sabe pintar.

O legado do fim

A vida tem recomeço? “Não podemos voltar atrás e fazer um novo começo, mas podemos recomeçar e fazer um novo fim”, disse o espírita Chico Xavier. Simples e eficaz.

Certa vez perguntaram ao monge budista, Dalai Lama o que mais lhe surpreendia nesta vida. Ele respondeu: “O que mais surpreende é o homem, pois perde a saúde para juntar dinheiro, depois perde o dinheiro para recuperar a saúde. Vive pensando ansiosamente no futuro, de tal forma que acaba por não viver nem o presente, nem o futuro. Vive como se nunca fosse morrer e morre como se nunca tivesse vivido”.

São respostas dadas por dois sábios com desenvolvimento espiritual avançado. Cometer erros é um ato comum entre os seres humanos, reconhece-los nem tanto e repara-los é raro. O homem está envolto de orgulho, arrogância, prepotência e ganância. Os problemas que envolvem o planeta se acumulam e são poucos os que pensam em um novo fim. O “novo fim” requer mudanças de comportamento e isso dá medo.

Também dá medo pensar em não acumular dinheiro. Quem vive bem sem? O difícil está em consegui-lo. Trabalhamos cada vez mais e ganhamos cada vez menos, não é isso? Tem pessoas que acham que não. Ganham o suficiente para viver e são mais felizes que muitos que têm cinco carros na garagem. São como mochileiros: arrumam dinheiro só para a próxima viagem e saem a conhecer as delícias do mundo. E acumulam experiência e adquirem sabedorias.

A sabedoria está nos gestos de olhar, de ouvir, de tocar, de sentir. O prazer da vida é vivê-la. Viver com a humildade de quem erra e acerta. Com o saber de que a fortuna da existência está na simplicidade. Que a humanidade é repleta de incertezas e inverdades e é capaz de corrigi-las. Que o homem nasce, vive e morre em pouco tempo. E se não é possível recomeçar e sim fazer um novo fim, pense no legado que fica.

domingo, 11 de abril de 2010

O quê aconteceu?

Nesta semana, uma família de São Pedro do Sul, que a poucos dias acabara de enterrar um ente querido, foi pega de surpresa. Uma mulher, de 66 anos, foi vítima de um atropelamento na BR 287, próximo a localidade de Carpintaria, no primeiro dia deste mês. A Polícia Civil (PC), que investiga a circunstância da morte, pediu a exumação do corpo para que seja realizada a autopsia, que não foi pedida pelo médico que atendeu a idosa. Isto quer dizer que, o corpo deve ser desenterrado para o Departamento Médico Legal (DML) analisar e atestar a causa da morte.


A necropsia é realizada em casos de mortes acidentais, violentas ou suspeitas. Dentro destas situações ela é obrigatória, está na lei, por tanto, é realizada automaticamente. Neste caso que me refiro foi morte acidental. O corpo da vítima deveria ser encaminhado ao DML. Se a necropsia é padrão nestas circunstâncias, por que ela não foi realizada?


Conversei com o delegado que pediu a exumação do corpo, na última quinta-feira (08). Segundo Sandro Meinerz, não há suspeita ou evidência de algum erro no atendimento ao paciente. Claro que, alguma suspeita pode surgir depois do atestado do DML. “Não é normal (corpo) não ser levado à necropsia”, questiona o delegado.


Também conversei com uma filha da vítima. Ela conta que no dia do acidente, sua mãe foi levada ao Pronto Atendimento Municipal (PAM), pouco depois das 9h e foi encaminhada ao Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) em torno de meio-dia. Ela morreu no caminho ao HUSM. Não foi possível conversar com o médico que atendeu a ocorrência para revelar mais detalhes.

Neste momento não se procuram culpados para a morte. Porém, existe um fato concreto de negligência nessa história: o corpo não foi encaminhado ao DML para realização da necropsia como deveria ter sido. A família, que já chora a perda, sofre ainda mais com tudo isto.


O agravante é: se a PC não estivesse atenta ao caso, alguém iria fazer alguma coisa? Há pouco menos de um mês uma leitora da Gazeta reclamava da demora para o transporte de pacientes a Santa Maria. Neste caso, a vítima também foi fatal. O poder executivo nega haver falha no sistema. Ora! Todos sabem que a saúde no Brasil é um caos. Não é exclusivo de um município ou de outro. Em nossa cidade até temos motivos para elogiar.


Todavia, situações como estas devem ser discutidas por nossos representantes. E justificativas não bastam. É necessário identificar o problema para tomar uma atitude e solucioná-lo. Por que enterrar um ente querido é horrível. Por duas vezes, é ainda pior.

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quarta-feira, 7 de abril de 2010

A visita do Coelho

Um dia acordei e ainda sonolento estranhei o quarto. As luzes estavam acesas. Senti algo estranho no rosto. Ouvi passos do lado de lá da porta. Fui levantar e quando virei os pés para o chão vi pinturas. Ou melhor, pegadas com cores diversas, azul, amarelo e vermelho também. Segundos depois percebi as marcas nos móveis e nas paredes.

Segui as pistas e me deparei com ovos de galinha pintados. Estavam em cima de uma cômoda. As cores eram as mesmas que tinha visto no chão, móveis e parede. Pelo espelho vi meu rosto colorido também. Senti o coração bater mais rápido. Eu tinha certeza, o Coelinho da Páscoa havia me visitado naquela noite.

Gritei para mãe, para avó, para todos que pudessem ouvir. A porta se abriu e todos surpresos concordaram que o Coelinho tinha me aprontado. Os adultos geraram a expectativa de o danado ainda estar por volta da casa. Saí correndo para vê-lo. A pontinha das orelhas já me servia. Mas, era tarde demais e o Coelho apressado tinha outros ninhos para visitar.

É difícil lembrar ao certo a minha idade naquele dia. Devia de ter uns cinco anos. Lembro da emoção, da sensação, das patinhas marcadas em cores no meu quarto. O tempo passou e um dia fui obrigado a ouvir que Coelho da Páscoa e Papai Noel não existiam. Como assim? Que bobagem é essa? Eles já me visitaram! Eu já os vi! É, foi difícil de acreditar.

Apesar da frustração, o encanto pelas datas permanece vivo. É a magia em torno do Natal e da Páscoa que torna as pessoas sensíveis. A surpresa da chegada de alguém maior, de um símbolo repleto de novidade, como um ovo de chocolate, um presente ou um quarto todo pintado, deixa uma criança em êxtase e mantém a crença e a fé vivas pelo resto da vida. A visita do Coelho é a ressurreição de Jesus. É a reflexão e o renascer do homem.